quarta-feira, 21 de março de 2012

A taverna 2


            Pego desprevenido, Shverno pode apenas confirmar com a cabeça aquele misto de pedido e ordem, mas o mais surpreendente estava por vir, sentado ao seu lado, Thogeir sem rodeios se dirige a ele em um tom de voz alto o suficiente para ser ouvido dentro o murmúrio ao seu lado, porém, baixo ao ponto que outras pessoas não os ouvissem:
            - Você está procurando a morte?
            - Como é?! – Instintivamente responde Shverno, sua mão em busca da segurança da bainha da espada.
            - Não seja tolo, e se eu fosse você, não buscaria conselhos na espada.
            - Não me conheces e vem ameaçar-me.
            - Rá! – projeta sua cabeça para trás, voltando novamente a sua posição. – Por que eu haveria de ameaçar um irmão de fé...
            - Um irmão...
            - Para quem conhece, percebe-se que você é um seguidor dos velhos deuses assim que você aparece.
            Uma sensação fria percorre a espinha de Shverno. – Me ofende a comparar-me com aqueles pagãos adoradores do Diabo. – havia estudado os comportamentos dos cristãos durante muito tempo, o que poderia ajudar sua missão. – Veja, sou um filho de Cristo e.
            - Contenha-te homem, não sou ameaça para ti, e sinto em você o toque dos deuses antigos.
            Todo o seus disfarce parecia estar ruindo, o que fazer?! Estava no meio deles, uma palavra sua e todos cairiam sobre e o queimariam como fizeram a sua mãe, aquela sensação trouxe um sentimento que a anos não sentia. O total desprezo por aqueles que agora combatia, sua vontade de vingar-se, da qual abrira mão ao aceitar seu dever sobre o altar sagrado.
            - Deixe-me...
            - Acalma-te. Estás num covil de lobos, todos estes dariam qualquer coisa para matá-lo e levar seu ouro, se souberem que és um antigo, isso só fara com que sofra antes de o matarem, se não for levado até o sacerdote para julgamento. – um gole de seu enorme copo de madeira interrompe momentaneamente. – Ouvi dizer que eles conseguem fazer até bois confessarem seus pecados.
            A masmorra e seus instrumentos de “confissão” na catedral de Königsberg imediatamente vieram a sua memória.
            - Você quer ouro?
            - Julga que quero-o morto e ter seus bens?
            - Por que não, pelo que parece tens minha vida em suas mãos.
            - Então admite que eu estava certo.
            - Faria alguma diferença? Certo ou errado, não creio que esperariam duas vezes para colocar minha carne para dar gosto aquela sopa. – A mente de Shverno pulsava, precisava pensar em algo para sair dali, poderia arrancar a cabeça dele com um golpe e correr para seu cavalo, mas até desprende-lo seria apanhado, e aquele homem parecia habilidoso com armas, poderia ele acabar sem a sua. Talvez, se arranja-se uma briga, teria como motivo mata-lo e ninguém contestaria, mas como?
            - De certo não, todos querem a todos mortos. – Outro gole. – Diga-me, o que és, um andarilho? Um guerreiro perdido das hordas do Rei Pagão? Ou quem sabe um sacerdote.
            Rei pagão, é assim que o chamam, pensou ele. – Por que tanta curiosidade se seu interesse é no que possuo ao invés de quem sou.
O gigante vermelho permaneceu silencioso por um tempo, olhando para a parede então, voltando-se para Shverno novamente. – Eu diria que você é um sacerdote, sempre ouvi dizer que são muito hábeis nas palavras e pensam em tantas coisas enquanto não deixam transparecer seu medo. Seu rosto não mostrou nada.
            - Eu...
            - Você?! Se for um sacerdote, és ou muito inexperiente ou muito cego que ainda não notou.
            - Do que está falando? – O que não notei? – Isso é algum jogo seu?
Os olhos do lituano então percorreram seu colega de taverna, observando os detalhes.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A taverna



Muito diferente do ambiente externo, o interior da taverna era quente, uma grande fogueira queimava em uma lareira de pedra no centro da parede dos fundos diretamente a frente da entrada. Inúmeras mesas de madeira pontuavam o local, ocupadas por completo. Um grande balcão ficava a esquerda da porta, com alguns bancos mais altos, prateleiras com grandes copos de madeira e metal, e muitos barris de bebida, uma porta a esquerda dava para o que parecia ser uma cozinha, pelo cheiro que de lá provinha. Ao lado do balcão, um homem preparava uma sopa em uma grande panela alimentada por um braseiro ao chão. O lugar era iluminado por um enorme candelabro de velas que pendia do teto, tochas nas paredes e velas sobre móveis. Ao sopé da escada que levava aos quartos, um elevado permitia que músicos tocassem e fossem notados em meio a balbúrdia.
Garotas iam e vinham com canecos de bebidas e bandejas de carnes sobre o olhar atento de dois homens, um atrás do balcão e outro perto da escada, Shverno não viria a ter tempo de descobrir, mas eram os donos da taverna.
Uma bela moça, jovem, de seis avantajados e bela cintura, a qual os homens chamavam de Tristania tentava deter as investidas de um homem claramente sobre efeito da bebida, essa moça que percebendo a entrada de Shverno e com um grande sorriso, maior que aquele sorriso forçados das garçonetes quando algum novo cliente chega ao local, esse olhar é percebido pelo visitante que devolve também um sorriso. Finalmente livre do sujeito, a bela garçonete vem atende-lo, este já sentando num dos poucos bancos disponíveis juntos ao balcão.
- Oh! Finalmente alguém bonito neste lugar. – Exclama Tristania ao aproximar-se do balcão, imediatamente levando vários dos fregueses, todos homens, a voltarem se para o jovem ali.
- O que seria para você bonitão?
- Uma bebida, um pão e carne e um quarto por favor.
- Nossas meninas estão ocupadas, mas log devem descer.
- Como é?
- Você não pretende passar uma noite fria como essa sozinha não é? Logo, nossas meninas terminarão com seus clientes e poderão aquecê-lo.
- Eu não quero este tipo de serviço.
- Um padre?
- De forma nenhuma.
- Ainda bem. – Uma piscadela de olho. – vou buscar sua bebida.
Ao fundo a banda terminava mais uma música, alguns urros eram a demonstração de satisfação dos ouvintes, em sua maioria, pareciam veteranos de guerras.
- Por que não estavam na batalha?! – Reflete. – Mercenários...
Alguns ali também eram camponeses, indiferentes as guerras que a aconteciam a sua volta, queriam apenas aproveitar, e bebiam para que a bebida levasse seus problemas.


Em uma das mesas uma salva de risadas chama a atenção do sacerdote, um enorme homem parece desafiar um outro sentado, de não menos porte, para uma disputa, uma queda de braço, sobre as risadas dos ouvintes, em alguns instantes estão sentados os dois, de um lado o desafiante, de outro, um grande homem de cabelos e barbas ruivas, seu enorme cabelo, com duas tranças pendentes de sobre seus ombros não são menores que sua barba também comprida dividida em duas grande tranças, um fio percorrendo cada uma delas terminava em um pequeno enfeite que pareciam a cabeça de dragões.
- Thogeir. – Comenta a moça, retornando com o pedido.
- Como?
- O ruivo, Thogeir Cabelo de Fogo, como o chamam. É uma ótima pessoa, um dos poucos que não é um criminoso sujo por aqui.
- Ele chama-se Cabel de Fogo?
- Claro que não, porém, ninguém sabe muito sobre ele, e ele não fala também.
- Você comentou que há criminosos por aqui?
- Não te engane meu lindo, pelas risadas deste local, nenhum destes homens hesitaria em lhe matar por um saco de ouro, estes homens já pilharam muitos vilarejos. Incontáveis foram as mulheres que eles corromperam, quanto sangue inocente tem em suas mãos.
- Por que aceitam-nos aqui então?
- Por que ainda possuem ouro, seja de onde quer ele venha, mas estes homens estariam melhor se mortos.
- Quanto lhe devo?
- São 15 groszy.
- Aqui estão. – Puxando algumas moedas de bronze de um saquinho estrategicamente localizado em suas roupas.
- Obrigado. – Dizia ela enquanto recolhia as moedas lentamente da mão de Shverno, deixando seus dedos percorrem lentamente seu pulso e mão, de forma provocante, e uma sorriso leve escondido entre os lábios. Afastando-se esse vai até a mesa de Thogeir.
- Então Thogeir, você ganhou? – Falava alto, enquanto o outro desafiante movia-se da mesa, mexendo em seu braço, com um misto de raiva e dor em sua face.
- Mas é claro meu amor, acha que deixaria alguém me vencer na sua frente? – Responde o homem, enquanto toma um enorme gole da sua bebida.
- Ah! Por isso que eu te amo Thogeir. – Responde a moça entre risada, indo sentar-se em seu colo, a diferença de tamanho entre os dois é enorme, o homem agiganta-se em comparação a ela. Ela ciente disto não importa-se com os olhares furiosos que outros homens lançam para ela e ele, muitos destes, que por diversas vezes haviam tentado sua sorte com a moça. Dando lhe um grande beijo nas bochechas vermelha, estas pela bebida, cochicha algo em seu ouvido e sai, para continuar seus atendimentos.
Este fixando o olhar em Shverno, levanta, vindo em sua direção, um machado preso a sua perna balança ameaçadoramente, os clientes próximos afastam-se do caminho, que distraído após a performance da mulher, voltou-se para sua própria bebida. Por trás, outra música termina, com novos urros dos ouvintes, entre a algazarra, uma nova música é anunciada, a qual, provavelmente ninguém ouviu qual era.
- Podemos conversar?! – Exclama Thogeir em um misto de pergunta e ordem.



segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

S.n.E. - O Lobo Beberrão.


            Agora a música já está mais clara, sons de vários instrumentos podem ser ouvidos, uma flauta faz um som agudo, audível claramente a ele. A sua frente uma curva na estrada, que este vence calmamente em seu cavalo, ao terminá-la é que vem a descobrir de onde vinha o que ouvia.
            No lado direito da estrada, entre árvores enormes da floresta, em uma pequena clareira, que outrora certamente abrigara árvores, uma taverna de madeira, muito provavelmente construída da madeira daquelas árvores derrubadas. Ao seu lado, um estábulo com alguns cavalos e no outro lado, a base de uma árvore cortada e a seu redor, tocos de lenha e um machado. Do interior da taverna, uma luz emanava pelas janelas, risadas, conversas, e a música tocando alto enquanto copos batiam.
            - Vamos dar uma olhada.
            Na entrada da taverna, uma placa em língua tavernácula dizia: Pousada e Taverna do Lobo Beberrão.
            - Nome peculiar.
            Deixando seu cavalo no estábulo, vem a ele enquanto descendo com grande dificuldade, dada sua manta, o que fazer. Não poderia entrar no local com aquela cobertura toda, e não tinha onde deixá-la. A solução surgiu quando um homem aparentemente bêbado vem cambaleando dos fundos da construção, cambaleante, ao virar-se, para em posição estática olhando aquela coisa a sua frente. Sem mover-se, o pobre transeunte tentar falar algo, mas nenhum som sai, desesperado, começa a fazer o sinal da cruz de olhos fechados rezando baixo. Shverno observava-o, atento a seus movimentos, intrigado pelas palavras de desconjuramento que proferia, mas atento ao fato de que aquele homem, apesar dos efeitos dos álcool, não estava imune ao frio que fazia, seus dedos já mudavam para a cor roxa, tal qual seus lábios, sua pele arrepiada em uma inútil forma do nosso corpo proteger-se do frio.
            Vendo ele que não havia ameaça, resolveu-se remover aquela manta, que cobria-o de completo e ainda arrastava-se pelo chão, tal qual havia sido colocar, remover foi um tarefa árdua, exigindo esforço e paciência.
            - Que ninguém saia agora e me veja fazendo isso.
            Ele seria certamente atacado se outra pessoa o visse, ainda mais bêbado, dado a aparência grotesca daquela montanha de tecido movendo-se aleatoriamente. Porém, a festa lá dentro estava muito boa para alguém preocupar-se em deixar o local, já a única testemunha do que ali acontecia, se alguém pudesse sentir, veria que seu coração quase sai pela boca, seu corpo pressionava-se contra a madeira da taverna a medida que a era removida, dela saia aquele homem relativamente alto, cerca de 1,90, de constituição física avantajada, com músculos marcados por sobre sua armadura de couro, cabelos negros que alcançavam até seu pescoço e uma barba rala, dois olhos negros pontuavam sua face rígida e forte para um jovem de sua idade.
            Independente da figura uma ali a sua frente, aquilo foi demais para o bêbado que desabou, desmaiado, para surpresa de Shverno, que após observá-lo ali, sem muita esperança de retorná-lo ao estado alerta, resolveu deixar sua manta ali, cobrindo-o contra o frio.
            - O que estou fazendo?! Provavelmente deve ser um cristão que adora caçar lituanos. Devo estar ficando fraco.
            Balançando o gelo de suas vestimentas, dirige-se para a porta da taverna, com uma espada sempre pronta ao seu lado. Lá, outra música já se inicia, enquanto risadas cortam o som da música.
            - Que Dievas me proteja e ninguém descubra o quem sou.
            A idéia de Shverno era tomar uma bebida quente, conseguir informações sobre o que acontecia no Oeste, se possível dormir, e então continuar, nada de confusões, nada de brigas, muito estava em jogo para que este se arriscar-se. Mas a vontade muitas vezes anda longe da realidade...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Shverno na Estrada.


Shverno já estava na estrada a mais de um dia, seus preparativos foram relativamente rápidos, com acesso a vastos suprimentos pilhados daquela cidade, aos cavalos mais belos e bem cuidados pertencentes aos nobres locais, não foi difícil deixar tudo em ordem e tomar a estrada rumo ao seu destino, a cidade de Danzig, dentro do território do Sacro Império.
De fato, era um grande risco para ele ser capturado em território cristão sendo um sacerdote pagão, porém, havia aprendido as habilidades do discernimento durante sua vida na casa de pessoas que não eram seus familiares. Seus trabalhos como o sacerdote da Deusa da Morte mostraram-lhe como ser discreto, pois raramente as pessoas gostavam de ter um representante do longo sono ao seu lado, mesmo tendo reverência por esta deusa.
Este caminhava calmo pela estrada, já havia percorrido uma boa distância naquele dia de viagem, mesmo com o frio terrível que fazia e a grande tempestade do dia anterior, ainda era possível seguir. Alguém que por ele passasse na estrada provavelmente veria a correr desesperado em direção oposta, pois este parecia um cavaleiro do fim do mundo.
            Sua preferência pela cor negra, fez com que escolhesse tanto suas roupas como o cavalo desta cor, o pesado manto que cobria a ele e ao cavalo também, ficando de fora desta proteção contra o frio,apenas a cabeça de seu do cavalo, a sua própria estava enterrada no fundo do capuz, dificultando a qualquer pessoa ver-lhe, uma figura sinistra para encontrar-se em uma estrada medieval, cheias de mistério e terror.
            É claro que se um grupo resolvesse atacá-lo, este bizarro cavaleiro teria grande dificuldade em defender-se, dado que qualquer movimento com túnica tão grande, ainda mais os de uma espada seriam praticamente impossíveis, mas ele conhecia muito bem o misticismo e o medo dos cristãos, e daquela forma, se alguém pensasse:
            - Veja, uma vítima, haverei de atacá-lo. – Mas de fronte aquela “coisa”, fugiria em pânico, como se tivesse visto a própria personificação do Terceiro Cavaleiro do Apocalipse, a Fome, o qual Shverno havia tirado sua inspiração, pois, mais que a guerra ou a doença, a forme é o grande medo dos homens, dos quais, uma doença pode ser curada, a guerra termina e a morte é inevitável, mas não há como fugir da fome, que por sai causa as doenças, a guerra a morte.
Mãe de todos os suplícios humanos, que leva as pessoas aos mais extremos pontos da sua própria moral para ter o mínimo para comer, muitas vezes longe do ideal. Matar, morrer, roubar, saquear por causa da fome eram constantes neste mundo medieval onde pragas, a natureza e o homem ameaçavam plantações constantemente.
            Se essa vestimenta lhe foi útil de verdade, não é possível afirmar, pois até o momento, sequer uma alma viva havia cruzado por ele.
            - Seria por causa do cerco a Königsberg? – Pensava ele. – Mas não pode ser apenas isto, mesmo em cerco, pessoas vão e voltam para cidades em sítios, mercantes em busca de venda para os exércitos atacantes, ou para conseguir um contrabando de suprimentos para os sitiados. Negócio perigoso porém lucrativo, como os europeus haviam descoberto durante suas Cruzadas no Oriente.
Também, como qualquer guerra, nunca faltavam oportunistas tentando lucrar em cima do pobre campesinato, grupo mais atingido por estes conflitos, com ofertas de segurança, de milagrosas formas de proteção a seus pertences ou apena roubando-os.
            Por outro lado, haviam aqueles que se dirigiam as zonas de combate para lutar, seja pela causa de um dos lados ou apenas para venderem-se e suas habilidades de batalha como mercenários. Mas não desta vez, não ali, a estrada vazia, apenas ele, seu cavalo a floresta e a estrada.
            Perdido em seus pensamentos, um som lentamente invade sua mente, muito baixo, mas destoando do ambiente a sua volta, no início ele o ignora, mas este aumenta conforme avança, tornando-se perceptível uma música que vai ganhando forma em seus ouvidos..
            - De onde vem este som? – Interrompendo seus pensamentos mais profundos, continua agora, decidido a descobrir a fonte daquela melodia.

A Estrada para Frankfurt - Parte Final.


Seus corações palpitam, suor escorre-lhes a face, quatro mortos, e o grupo ficando cada vez menor, não fosse a intervenção de Hartmann, as coisas poderiam ter sido piores, todos talvez, tivessem perecido.
Markus agradecido cumprimenta seu subordinado com um abraço fraternal.
- Obrigado Hartmann, salvaste a vida de todos aqui. – Ainda ofegante.
- Não há o que agradecer-me Capitão, fiz apenas o que devia ser feito. – Sua voz grave era consonante com a imponência de seu porte.
- Salvaste mesmo a todos. – Schulz comenta, voltando-se então para Markus. – O que faremos agora Capitão?
- Temos de chegar a Frankfurt e avisar a guarnição. Talvez consigamos avisar o Senhor daquele feudo e fazer estas notícias chegarem ao Kayser.
- E o Bispo senhor?
- Teremos de encontrá-lo também.
- Algo me diz que ele tem mais conhecimento sobre esta história do que quer admitir. – Shculz.
- Também creio nisso. – Diz o capitão, após recuperar-se de uma tosse forte e insistente. – Se ele tiver algum conhecimento e tiver nos mandado para lá sabendo, ele irá se arrepender.
- Capitão, me permite um comentário? – questiona o gigante.
- Acho que devíamos continuar logo, o senhor parece debilitado, e este frio todo pode estar lhe piorando.
- Concordo. – Voltando-se para todos. – Vamos lá todos vocês, não há mais nada do que fazer neste antro infernal, caminhando.
- Sim senhor. – Respondem todos.
Puseram-se todos a andar novamente até a cidade de Frankfurt o que lhes tomaria algumas horas. Chegar a tal cidade era vital, pois lá, em um burgo que ganhava destaque dentro do feudo local, com uma grande livraria, uma universidade se estabelecendo, grandes feiras, haveria alguém que pudesse entender o que poderia ter acontecido.
O restante do percurso foi calmo, porém, não houve mais momentos de descontração, não houve risadas ou comentários jocosos, um silêncio sepulcral cortado pelo som do vento cortando pela floresta ao seu redor e os animais acordando com o nascer do Sol, os que ainda permaneciam na floresta mesmo durante aquele inverno rigoroso.
Sequer a lebre que passa correndo por eles, esfomeados, ganha atenção, ninguém tinha vontade de sacar um arco e caçar, não valia o esforço, queriam apenas chegar a cidade.
Porém, longe de trazer-lhes tranqüilidade, Frankfurt seria apenas o início de um novo inferno, o Capitão Markus trazia dentro de si, uma semente negra que encontraria um solo fértil naquela cidade populosa, sendo ele o causador de uma enorme desgraça sem saber ou jamais vir a conhecer.
Ao longe os portões da Muralha de Frankfurt despontavam no horizonte para alegria daqueles homens, Markus internamente era tomado por uma grande alegria, também uma enorme dor. Seu ferimento na mão agora vertia sangue profusamente, uma ardência nos olhos revela uma mancha de sangue que ninguém percebera.
Ele morria, sem saber...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

E.p.F. - O Gigante - Parte 2.


            - Capitão, você ainda está vivo?! – Fala Hartmann quando passa por este, parado no mesmo ponto de antes, inerte. – Onde estão os outros lobos, eles não o atacaram.
            - Não Hartmann, eles passaram direto por mim.
            - Maldição! – Exclama o gigante. – Foram atrás dos outros. – Vamos Capitão.
            - Sim. Eles não terá chances.
            - Certamente.
            Os dois correm para encontrar seus amigos. A frente deles, a situação é crítica, os lobos já alcançaram-nos.
            - Mais rápido homens, não deixem que cheguem perto de nós. – Grita Schulz a seus amigos.
Atrás deles um dos lobos alcança-os, o soldado virando seu corpo vê duas enormes patas, estas pressionam para baixo, com enorme força, suas pernas falham, perdendo o equilíbrio, despenca, no chão, não há chance de luta, com uma mordida direto no rosto, inibe a vítima de resistência.
O outro lobo agora vem em direção de Schulz, que havia desviado de seus amigos para ajudar o companheiro em perigo, este, percebendo que será o próximo, coloca-se de prontidão com a espada preparada. E vem o ataque, pulando sobre ele, o lobo prepara sua mordida, Schulz, sabendo ter pouca chances em um ataque frontal, joga-se para trás, caindo de costas no chão, deixa sua espada erguida, enquanto o animal cai sobre ele, o golpe perfura o dorso do animal, atravessando-o por completo, sua mão livre segura a cabeça do animal logo abaixo da cabeça, presa firmemente ao pescoço dele.
O animal emite um grunhido e fica imóvel, um pouco relaxado, Schulz começa a mover-se para sair dali, mas antes de poder livrar-se, percebe os músculos do pescoço do lobo movendo-se.
- Ele não morreu. – Pensa ele. E não havia morrido mesmo, parecido despertar de um sono, de imediato o lobo tenta atacar o rosto do soldado ali caído o qual afasta-o usando o braço, mas não aguentará muito naquela situação.
Seu algoz ganha espaço, cada vez mais próximo, Schulz, em um esforço sobre humano, urra de ódio, juntando todas suas forças para que mantenha-o afastado. Conseguindo afastá-lo um pouco, move sua outra da espada para o pescoço, isso lhe dá uma base melhor para sustentar seu atacante longe. Um impacto e o animal sai girando de cima dele, sem entender o que aconteceu, percebe uma enorme mão estendida em sua direção, é Hartmann, que olha-o com seu martelo erguido sobre sua cabeça.
- Vamos irmão, saia deste chão gelado. – Comenta.
- Obrigado Hart, mas cuidado, há outro lobo.
- Não há mais. – Responde ele, enquanto caminha para terminar com o último do grupo, enquanto Markus, já em controle de si mesmo, havia aproveitado a distração do lobo que comia para cravar a espada diretamente em sua cabeça.
O Gigante caminha até o lobo caído, sua coluna destroçada, que sem poder mover-se rosna freneticamente.
- Morra criatura infernal. – Diz ao desferir o golpe final contra ela.

E.p.F. - O Gigante.


- CORRAM!!! – Berrava Markus, atrás de si, vinha os 8 soldados restantes, e um dos lobos, mais um logo se junta  a caçada, os outros lobos estão ocupados com suas presas, não demorará porém, que juntem-se a caçada.
- AHH!!! – Grita um dos soldados quando atacado pelo primeiro lobo, uma mordida certeira em seu pescoço e este já cai sem vida. Seus colegas vem apenas de relance, muito concentrados em salvarem a si mesmos, Markus, percebendo que seriam abatidos um por um desta forma, dá uma ordem a Schulz.
- Mantenha os homens correndo até Frankfurt. – Toda aquela corrida estava lhe causando uma enorme dor pelo corpo, mas isso não era importante agora. – Eu manterei estas criaturas ocupadas o máximo de tempo possível.
- Mas senhor, eles são muitos, o que você pode fazer?
- Não discuta Schulz, mantenha os homens vivos.
- Mas...
- Não é hora para isso. – Suas palavras eram firmes. Toda esta troca de ordens acontece em um período muito curto, o lobo que continuava em seu encalço parece agora focado no Capitão, o qual, já desembainhando sua espada, diminui seu ritmo, preparando-se para o confronto.
O lobo agora, focado totalmente em sua presa imóvel a sua frente salta, com a boca preparada para abocanhar o pescoço, Markus por sua vez, está com espada em mãos, observa aquele monstro vindo em sua direção, o que é um ataque de segundos, parece acontecer em câmera lenta, seu coração pulsa tão forte que pode o sentir pelo corpo, batendo vertiginosamente, o momento chega, é hora do contra-ataque.
            O lobo está a poucos metros dele, o movimento da espada tem de ser perfeito, o golpe deve sair diretamente em sua cabeça, cortando-a, e em um instante, ele começa o movimento, mas para sua surpresa e terror, seu braço não se move apenas um feixe de dor percorre-o, mas não era do ataque do seu algoz, mas sim seu corpo rejeitando sua ordem, ele curva-se, mais um segundo e sua vida estará terminada.
Com o canto do olho, ele percebe algo aproximando-se pelo seu lado, parece um objeto, a boca do lobo está a cerca de um metro dele, tudo corre com uma lentidão assustadora diante dos seus olhos, os dentes amostra deixam claro o poder daquela fera, de súbito, um som seco e um ganido. Instintivamente tendo fechado os olhos, espera o pior sem ver o que acontece, passam-se segundos e nada, abrindo-os novamente, vê o corpo do lobo caído metros a sua frente e o gigante Hartmann correndo com seu enorme martelo nas mãos, a cabeça do lobo está totalmente destroçada pelo impacto.
            Quando Markus voltou para defender o grupo, Hartmann, um homem de cerca de 2,10 de altura, conhecido por não ter medo de nada, e dono de uma força descomunal tanto quanto uma percepção muito boa, ouviu a ordem dada ao soldado Schulz pelo seu capitão, e tendo percebido o quão debilitado este estava, sabia que não teria nenhuma chance, seria logo abatido decidiu voltar com este, mas sem que ele percebe-se, pois certamente não aceitaria ajuda.
O lobo aproximou-se do Capitão e este hesitou em seu ataque, foi então que Hartmann, com seu pesado martelo de guerra entrou em ação, girando o sobre sua cabeça e ao mesmo tempo seu corpo, desfere um certeiro ataque na cabeça momentos antes deste alcançar Markus, o crânio esfacela-se imediatamente dado o impacto, que de tão violento, quebra sua espinha e desvia-o de seu trajeto, fazendo o cair metros longe.
            Não há tempo para descanso, os outros lobos aproximam-se, a matilha inteira, são mais quatro, um deles avançado vem em direção a ele, enquanto outros dois ignoram-os correndo para o grupo maior a frente,  e o último deles segue para Hartmann. O primeiro dos lobos pula em direção ao gigante, que desvia dando um passo para trás lançando seu martelo ao chão desembainha sua espada, com uma de suas enormes mãos segura o pescoço da criatura cravando sua espada diretamente no olho desta, que debate-se freneticamente, percebendo a aproximação do outro lobo, atira o corpo que está em seus braços contra este, que com o impacto direto cai, atordoado dando-o tempo de buscar seu martelo. Quando o lobo atingido começa a levantar-se, por cima de sua cabeça, um pesado martelo corta o ar com um som estridente, indo impactar-se diretamente no animal, afundando sua cabeça dentro da neve e esmagando-a contra o chão da estrada.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

E.p.F. - Morte na Estrada


            - Não há nada Capitão. – Continua Moritz, sem abaixar o tom de voz. – Dietrich, você está bem?
            - Estou muito cansado, preciso parar. – Responde.
            - Não podemos parar, temos de continuar até Frankfurt. – Markus fala para seu subordinado. – Este local não é seguro.
            - Pare de delirar Capitão, o senhor está fora de si. – Sua voz ainda alta. – Não há perigo.
             - Como não havia perigo nenhum na vila, e agora 40 dos meus homens estão mortos por pessoas que os comeram vivos. – Sua voz já exacerba raiva.
            Moritz fica em silêncio mas logo volta ao debate.
            - Mas não é o caso agora, precisamos descansar para poder continuar.
            - Não, vamos avançar, quem não puder andar, que peça ajuda. – Apontando para Dietrich e Moritz. – Isso inclui vocês.
            - Não Capitão, eu não irei, nem o Dietrich, ficaremos aqui e nos recuperaremos antes que seus devaneios matem a todos nós, quem quiser que fique conosco e sobreviva.
Outro soldado, Rudolf, vem para o lado de seus amigos, passando pelo capitão que parece ignorá-lo. A meio caminho entre o Capitão e os dois outros soldados, ele ouve um grito do Capitão.
            - CUIDADO! - Apontando para uma parte da floresta.
Voltando-se para o lado, tem ainda tempo de perceber uma silhueta se movendo em sua direção, uma enorme pressão faz com que seu corpo despenque para o chão, um cheiro pútrido emana até sua narinas, então a dor e tudo fica escuro.
Seus amigos podem fazer pouco para evitar que aquela coisa lhe arranque a vida com uma mordida diretamente em sua jugular, sangue jorrando de seu pescoço. A vida já havia o deixado quando seu corpo começa a ser devorado.
            Dietrich e Moritz ficam separados de seus amigos, com um súbito golpe de energia circundam a criatura e juntam-se ao resto deles. Da floresta outra desta aparece, e caminha em direção a eles, logo ficando sobre a luz das tochas.
            - Meu Deus, o que é isso? – Moritz grita.
- É um lobo. 
- Acho que foi a silhueta deste monstro que vi na floresta antes de desmaiar. – Comenta Carl enquanto aquele lobo avança sobre eles.
- Olhem o rosto dele, este animal deveria estar morto.
- Como as pessoas daquela cidade.
 Verdadeiramente, aquele animal estava morto, ao menos em aparência. Parte do sua cabeça não possui pele, seu focinho deixa os ossos amostra, o lado direito do animal possui nacos de pele e carne podre por sobre as costelas, uma das patas tem seus músculo expostos. Uma verdadeira criatura infernal. 
Aquela criatura putrefata para diante deles, com seus dentes amostra tanto como sinal de ameaça como pela falta de carne no rosto, porém, Markus percebe que aquele não é o padrão normal de caça de um lobo, ou sequer defesa de território, uma alcateia é sempre maior, e ali estão dois lobos, ou outros estão escondidos ou estes dois não estão agindo da forma comum, nem mesmo a postura é de caça, aquilo é apenas ameaça, estão atacando não para defender a cria ou o território, mas por algum desejo bem mais brutal, comer, que é o que faz o outro lobo com seu colega morto.
Todos sabem que lutar não é a resposta, confirmada pelo surgimento de um terceiro lobo da floresta, que voa diretamente no rosto do soldado Gregor, este solta um breve som antes de morrer. Markus ordena imediatamente que todos corram em direção a Frankfurt e é o que fazem, sendo seguidos por aquele lobo que estava parado, Moritz tenta defender-se com a espada ao invés de correr, desferindo um golpe em direção ao animal que por pouco consegue desviar mordendo seu braço. Os ossos quebram enquanto a criatura pressiona-se contra seu corpo derrubando-o, sangue lava a neve. Por sorte, consegue desviar uma mordida da criatura, segurando seu focinho com as mãos, da sua boca, um odor fétido é emanado, uma baba pestilenta pinga sobre seu rosto.
Esse golpe de sorte não dura muito, outro logo surge tornando impossível a resistência, uma mordida em seu outro braço debilita-o demais para resistir, seus músculos sedem a força daqueles animais, tamanha dor faz com que desmaie, em segundos, seu corpo está sendo consumido pelos lobos.

E.p.F. - Parte 5.


Os soldados não entendem o que aquela súbita explosão do Capitão significa, mas ele não para de comandar os soldados, sua voz apesar de firme, parece mais baixa, como que para evitar o barulho. Schulz aproxima-se dele:
- O que há Capitão, por que temos de sair, podemos passar a noite aqui. – Argumenta. – Corremos risco de encontrar outra tempestade.
- Não podemos, temos de sair daqui, rapidamente.
Ao fundo alguns homens juntavam suas coisas enquanto conversavam com Carl.
- E você não chegou a ver estas criaturas que você falou?
- Não vi, nem ouvi sequer, mas com certeza, um predador.
- Provável.
- Vamos homens. – Ordena novamente o Markus.
- Capitão, por que temos de sair daqui. – Grita um dos soldados.
O Capitão enfurecido gesticula para que este faça silêncio, indo até ele chama todos para que possam ouvir.
- Digam-me, o que vocês ouvem?
Todos para e tentam prestar atenção a sua volta.
- Nada Capitão.
- Exato, apenas a neve, a floresta está em silêncio novamente, e isso não quer dizer boa coisa, florestas não são silenciosas.
- Sim Capitão, mas... – Carl ia comentar.
- Mas estamos sendo seguidos desde antes de encontrarmos o Carl.
Uma sensação de gelo na espinha percorre a todos ali, que olham-se com suas faces tomadas em medo.
- Por quem Capitão? – Pergunta um deles.
- Não sei, porém, não pretendo descobrir. – Virando-se. - Agora mecham-se
Todos prontamente põem-se a arrumar o resto de seus pertences, um deles procura apagar o fogo jogando gelo sobre a fogueira, o capitão continua a observar a floresta. Apesar de debilitado como sua aparência demonstrava, todos não ousariam questionar um caçador exímio como ele, com grande entendimento da natureza, como este possuía.
Com tudo arrumado e o local limpo, novamente, estes voltam para a estrada apenas iluminada pelo fogo de suas tochas naquela noite escura, faltavam ainda horas até o amanhecer, e o caminho até Frankfurt era longo. Por ordem do Capitão, cada homem deveria cuidar de uma área, com isso, um deles deveria cuidar de sua retaguarda, com isso, voltando-se para ela constantemente, algo desconfortável, porém necessário em situação de risco, acentuado pela escuridão a sua volta.
A princípio, o caminho parecia mais calmo agora, uma brisa leve, porém gelada batia em seus rostos, a neve caia lenta, acumulando-se sobre o solo já branco dela. Os homens caminhavam próximos, falando baixo unicamente, por ordem do Capitão, risos ou conversa em tom de voz alto haviam sido proibidas.
Um dos soldados rezava silenciosamente, com um crucifixo em uma mão e tocha em outra, outros ficavam apenas em silêncio, tentando manter-se acordados, pois a exaustão já começava a tomar conta deles.
            Já havia cerca de 45 minutos que haviam deixado sua última parada, sem nada de ruim acontecer.
            - O Capitão deve estar ficando louco. – Comenta um dos soldados atrás do grupo no ouvido do seu companheiro que apenas ri e confirma com a cabeça.
Um dos soldados, Dietrich começa a lentear seu passo, ficando para trás, outro parceiro seu, Moritz percebe e volta para ajuda-lo, chamando atenção do grupo com um grito.
            - Pessoal, o Dietrich não está bem. – Isso enche de fúria o Capitão que volta até eles.
            - O que eu falei sobre ficar em silêncio?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

E.p.F. - Parte 4.


- Fale Carl, o que houve com você e com os outros.
            - Eu... eu... eu não sei. Estávamos posicionados dentro da floresta... observava a vila, como o Capitão mandou, mal víamos suas tochas percorrendo o centro, e a tempestade piorava, de repente os gritos começaram a surgir em meio ao ruído da neve. – Pigarreando. – Nós pensamos que vocês tinham começado a exterminá-los, o Joachim foi para perto da saída para a estrada, cuidar se alguém tentava fugir.
            - Sim, continue.
            - Ninguém saia, ficamos ali então, parados, conversando apenas. – Suas mãos tremem. – Então que ouvimos gritos vindo de algum local estranhamente perto. Não dava para ter certeza de onde vinham.
            - Mas você disse que ninguém saia da vila.   - Um soldado sentado comendo pergunta de boca cheia.
            - E não era, era o Joachim, eu e o Fritz fomos verificar, Geert e Heinz ficaram lá observando a cidade. – falava olhando para o chão, tentando recuperar suas lembranças. – ao chegar onde o Joachim estava, eu vomitei na hora, seu corpo dilacerado manchava de sangue a neve a sua volta. Estava tudo exposto, alguém havia comido sua carne.
            - Alguém conseguiu sair da vida e ataca-lo? – Pergunta Schulz.
            - Não, aquilo não era humano. – Responde.
            - Nem aquelas pessoas, foi o próprio Diabo. – Outro soldado completa.
            - Não, aquilo era animal. – Suor descia pelo seu rosto. – Ao me recuperar, desembainhei minha espada, Fritz já estava em guarda. Mas, onde estavam Geert e Heinz, novamente gritos, disparamos até eles, eu na frente.
            - Mortos? – Pergunta Markus, de costas.
            - Sim, quando cheguei lá, apenas o corpo de Heinz estava lá destroçado, Geert havia desaparecido.
            - Espere um minuto, só você chegou lá. E o Friz. – Schulz questiona. – O que houve com ele?
            - Não sei, ao me virar, ele não estava mais lá. No chão, uma marca de sangue, mas nada de corpo.
            - E você foi atrás dele? – Um soldado alto, encostado no muro de terra atrás deles pede.
            - Não, eu sentia que seria o próximo inevitavelmente, não entendia o por que havia sido poupado, mas agradeci ao Senhor e corri para a estrada, para o lado o oposto a vila, porém, fiquei exausto por causa da tempestade de neve, mal conseguia respirar e desmaiei.
            - Rá! De fato, um covarde, ao invés de procurar o Fritz ou ao menos nos avisar, preferiu fugir. – Um de seus companheiros vocifera para ele. – Devíamos tê-lo deixado morrer.
            - Calado Leopold. – Comanda o Capitão. – Também fugimos da vila abandonando nossos companheiros a morte.
            - Mas Capitão, a situação foi diferente e...
            - Silêncio!
- Sim capitão. – Alguns deles se olham, percebendo que o Capitão está novamente no controle da situação, este por sua vez torna a cuidara floresta, perceptivelmente algo o incomoda nela.
- Prossiga Carl.
- Não há mais o que falar, Meu Senhor, depois disso acordei sendo ajudado por vocês.
- Senhor, o que você acha... – Ia Schulz pedir ao Capitão, que o interrompe de forma brusca.
- Temos de sair daqui imediatamente, peguem suas coisas e vamos. – Antes que alguém pudesse falar ele completa. – É uma ordem.

E.p.F. - Parte 3.


- Com que madeira você quer fazer isso? Vai tirar o gelo no grito? – Outro deles comenta, com aquele humor que só o desespero consegue criar. – Talvez se você ficar olhando com essa cara horrível o gelo fique assustado e vá embora.
Algumas risadas ajudam a quebrar o clima tenso. Outros arranjam forma de sentarem, próximos, para não haver perda de calor. Como todo bom soldado da sua época, nenhum deles saia para uma missão sem estar com seus cantis de água cheios de algum destilado, aqua vitae como os alquimistas referiam-se a ela, na verdade, era comum o Hausbrand, um tipo de destilado de vinho que ficava cada vez mais famoso entre a plebe. Se a aqua vitae era um líquido purificado, logicamente também o corpo ficaria purificado após beber.
             A comida tratava-se de alguns nacos de linguiça e alguns potes pequenos com chucrute e os pedaços de pão que aquelas bolsas pudessem suportar. Os cantis com os destilados ou mesmo a saborosa cerveja passavam de um a outro, um pequeno teto de  galhos caídos de carvalhos e pinheiros fora improvisado por outros dois deles, desta forma, melhor abrigados, poderia ficar a par do que aconteceu.
            - Sente-se Carl, tome um gole e coma, você está muito ferido. – Schulz cuidava do seu colega. – Vou ver como está o Capitão, volto logo.
            - Sim Schulz.
Virando-se, estavam dois dos soldados cuidando do capitão, que já retomava seu estado normal e com isso, o controle sobre seus homens.
- Por que paramos? – Pede ele.
            - O senhor delirava em febre e o Carl estava muito assustado, com isso, não conseguiríamos avançar muito mais. – Schulz sentia-se obrigado a explicar-se perante o Capitão o qual sempre fora seu comandante. – Lamento tê-lo desrespeitado Capitão.
            - Pelo contrário Schulz, sua decisão foi... – Algo como um raio percorre o braço de Markus, interrompendo-o pela sensação de ardência e dor.
            - Está tudo bem Senhor. – Pergunta Schulz, aproximando-se.
            - Sim, está tudo bem. Mas não podemos ficar por muito tempo aqui, o que aconteceu lá tem de ser reportado ao comando em Frankfurt. – Dando uma longa golada no Hausbrand do cantil.
            - Sim Senhor. – Confirma Schulz. – O que o senhor acha que aconteceu lá?
            - O Diabo está lá, como o Sacerdote falou. – Outro soldado responde atrás dos dois.
            - Com certeza, vocês viram o que eles faziam? – Um deles segurava um pedaço de linguiça trêmulo. – Eles estavam comendo-os vivos.
            - Eles não morriam, como pode? – Um terceiro. – Eu feri a espada o tronco de um, e ele continuou vindo para cima de mim.
            - O Demônio não morre. – Outro.
            - Chega de tolices. – Markus levanta-se, com alguma dificuldade, dando passos em falso, apoiando-se em um dos seus soldados. – Vocês não notaram que eles não se levantavam mais depois de decapitados?
            - Não senhor. – Respondem todos.
            - Pois bem, eu gritei a todos, porém, a tempestade deve tê-los impedido de ouvir.
            - Mas nenhum homem sobrevive ao corte de uma espada em seu estômago. – Novamente o soldado retruca. – Eu cortei o braço de outro e nada, sem dor, sem cair, ele continuou vindo.
            Markus, ficando silencioso, passa a observar a floresta negra a sua volta de forma meticulosa, seus companheiros observavam-no, sem entender o por que ele fazia isso, seria a dor ou os delírios que estava tendo pensavam, alguns já se questionavam como poderiam ser liderados por ele se o mesmo não conseguia fixar seus pensamentos, Carl já mais calmo é trazido ao meio do pequeno grupo para que possa dizê-los o que aconteceu.

E.p.F. - Parte 2.

- É um dos nossos Capitão. – Grita o soldado que aproxima-se primeiro do corpo. – É o Carl. Está vivo.
            - Venham, ajudem a levantá-lo. – Aponta o capitão ao homem ali. – Como você veio parar tão longe?
            O soldado em estado de choque apenas gagueja coisas sem sentido, seus amigos removiam o sangue da sua face, tentando acalmo e aquecê-lo pois seu estado de hipotermia já estava muito avançado, neste ritmo teria morrido em meia hora, mas mesmo eles corriam de padecer ali naquele local.
Aos poucos a lucidez parecia voltar a ele, seus olhos, todavia ainda possuíam um rastro de terror extremo, não havia tempo para parar com isso, já estavam novamente andando, o intervalo que a tempestade havia lhes fornecido era usado para que pudessem trocar informações, organizar-se, foi neste ambiente que o soldado conseguiu voltar a falar.
            - Carl, tu havias sido destacado para ficar no flanco daquele maldito vilarejo, por que fostes parar aqui? – O capitão sentia uma raiva estranha, sem sentido. – Abandonaste teu posto e teus irmãos a morte? Onde estão os outros?
            - Senhor, eu...
            - Você o quê? Fugiu ao som dos gritos daqueles que dariam a vida para te defender? Ou sequer chegou a ir para onde havia ordenado? – Uma gota de suor escorria sua face em contraste com aquele intenso frio, rapidamente se congelava? – Homens como você me dão nojo.
            - Capitão, tenha calma. – Um dos soldados dizia enquanto caminhavam pela estrada. – Vamos ouvi-lo.
            - As palavras de um covarde não tem validade.
            - Capitão eu...
            - Cala-te covarde. – Partindo para cima dela, Schulz é completamente tomado pela raiva, não contém-se, apenas quer vingar-se da culpa que aquele soldado sequer sabe que tem, na verdade, nem ele mesmo sabe do que sente tanta raiva.
A caminhada é interrompida por esta súbita briga, alguns protegem o soldado ferido enquanto outros seguram o capitão, tentando acalmá-lo. Neste movimento que um deles percebe que o mesmo está febril.
            - Capitão, o Senhor está ardendo em febre.
            - Calado insolente, não aceitarei este tipo de insubordinação.
            - O que houve com você e o resto Carl? – Pergunta Schulz, ignorando os delírios do Capitão. – Alguém jogue gelo no capitão até ele voltar a si.
            - Eu... Eu não fugi, o capitão está enganado.
            - Sim irmão, sabemos disso, o Capitão está delirando, conte-me o que houve.
            - Eu preciso parar, não aguento mais.
            - A neve está diminuindo, devíamos parar e nos aquecer. – Um dos soldados comenta.
            - Ali, há uma clareira. – Aponta outro.
            - Maldita floresta silenciosa. – Um terceiro completa, fazendo com que todos voltassem a lembrar da silenciosa floresta.
            - Vamos parar um pouco. – Schulz comanda. – Como está o Capitão?
            - Está melhorando. – Um dos soldados que estava a cuidá-lo responde.
            Ele estava bem, silencioso, o gelo direto no rosto fizera efeito e o mesmo recuperava-se do delírio, ainda suando, mas sentindo a dor interna diminuir. O resto do grupo seguiu para o local apontado, não era mais seguro que a floresta, porém, a forma arqueada da terra ao seu lado permitia que o calor ficasse mais retido, impedindo o vendo de circular livremente, era como uma espécie de caverna naquele local. E por ali ficariam por um tempo, até suas forças voltarem.
            - Alguém tem comida? – Um deles já arrumando um pedaço de madeira para sentar. – E se fizéssemos fogo?

A Estrada para Frankfurt.

            Uma vez fora da vila, a situação melhorou um pouco para aqueles poucos sobreviventes, dos cinquenta soldados iniciais, restavam apenas dez, outro dez haviam dividido-se em grupos de cinco para flanquear a vila, o capitão não podia dizer se estavam bem ou não, mas não havia tempo para procurá-los ou poderiam todos perecer. Na sua frente, branca e mal iluminada pelo fogo daquelas tochas estava a estrada pela qual vieram, o frio era imenso, mas não havia uma opção melhor, ficar ali seria morte certa, mas voltar para aquele inferno que queimava atrás deles não iria alterar a situação.
            - Avancem homens. – O som da tempestade impedia que ouvissem uns aos outros claramente, seus rostos queimados pela neve, por sorte suas roupas de soldados eram quentes o suficiente para não deixa-los morrer de hipotermia.
            Mantinham-se perto um dos outros, guiando-se pela luminosidade das tochas, já estavam a algumas dezenas de metros longe da vila quando, mesmo em meio a tempestade um uivo se fez ouvir, o intenso frio não impediu que sentissem um gelo em suas espinhas, não era possível correr, pois o risco de o grupo afastar-se e ficar exposto era grande, cada um precisa da proteção e calor do companheiro ao lado.
Mas o uivo único agora havia aumentado, tão altos que o som da tempestade parecia ceder diante daquela espécie de lamento tenebroso.
            - Capitão...
            - Andem soldados, mantenham-se próximos.
           Uivos. De forma instintiva os passos ficavam mais rápidos, o clarão da vila em chamas ficava mais fraco, porém os uivos aumentavam.
           Andaram pelo que parecia uma eternidade, seus passos apressados exigiam muita força dado o acúmulo de neve na precária estrada, o que sem perceberem, diminuía o espaço por eles percorrido. 
            - A tempestade parece estar amenizando homens, ainda temos uma chance, mantenham-se andando.
De fato, a neve ainda vinha, mas menos intensa, era possível ver mais a frente, não de forma clara, mas ainda assim melhor do que até momentos antes.
            - Todos, mantenham-se próximos e sobreviveremos.
            - O que foi aquilo Capitão?
            - Não sei Schulz, mas aposto que o Bispo tem idéia.
            - O senhor foi ferido? - Pergunta outro soldado.
            - Sim, mas não foi nada demais. – Porém, sua mão doía muito e uma sensação estranha começava-lhe a correr o braço. – Alguém mais está ferido?
            Um a um todos foram respondendo que não, enquanto continuavam a andar a  neve agora caia fraca, tudo parecia acalmar-se, nem mesmo os uivos eram ouvidos, apenas a estrada mal iluminada por suas tochas e a floresta densa a sua volta.
            - Ouçam. – Disse um deles.
            - Não estou ouvindo nada, nem mesmo o vento.
            - Exatamente, mesmo a noite, uma floresta jamais é silenciosa. – retoma outro soldado. – A não ser que...
            - Que algum perigo faça com que os animais permaneçam em silêncio. – Emenda o capitão.
            - Nem os malditos lobos estão uivando mais. – Outro soldado.
            - Se é isso, temos de achar um abrigo logo, não sei por quanto tempo iremos conseguir ainda. – Fala Schulz, o soldado.
            - Você tem razão, mas não há muito entre a vila e o próximo Burgo.
            - Senhor, veja.
          A frente deles, alguns metros, alguma coisa jazia na estrada, todos temerosos, aproximavam-se com espadas já em mãos. No chão um corpo ensanguentado de costas para o chão respirava ofegante, era um dos soldados do grupo que havia se separado para flanquear o vilarejo.