quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Shverno na Estrada.


Shverno já estava na estrada a mais de um dia, seus preparativos foram relativamente rápidos, com acesso a vastos suprimentos pilhados daquela cidade, aos cavalos mais belos e bem cuidados pertencentes aos nobres locais, não foi difícil deixar tudo em ordem e tomar a estrada rumo ao seu destino, a cidade de Danzig, dentro do território do Sacro Império.
De fato, era um grande risco para ele ser capturado em território cristão sendo um sacerdote pagão, porém, havia aprendido as habilidades do discernimento durante sua vida na casa de pessoas que não eram seus familiares. Seus trabalhos como o sacerdote da Deusa da Morte mostraram-lhe como ser discreto, pois raramente as pessoas gostavam de ter um representante do longo sono ao seu lado, mesmo tendo reverência por esta deusa.
Este caminhava calmo pela estrada, já havia percorrido uma boa distância naquele dia de viagem, mesmo com o frio terrível que fazia e a grande tempestade do dia anterior, ainda era possível seguir. Alguém que por ele passasse na estrada provavelmente veria a correr desesperado em direção oposta, pois este parecia um cavaleiro do fim do mundo.
            Sua preferência pela cor negra, fez com que escolhesse tanto suas roupas como o cavalo desta cor, o pesado manto que cobria a ele e ao cavalo também, ficando de fora desta proteção contra o frio,apenas a cabeça de seu do cavalo, a sua própria estava enterrada no fundo do capuz, dificultando a qualquer pessoa ver-lhe, uma figura sinistra para encontrar-se em uma estrada medieval, cheias de mistério e terror.
            É claro que se um grupo resolvesse atacá-lo, este bizarro cavaleiro teria grande dificuldade em defender-se, dado que qualquer movimento com túnica tão grande, ainda mais os de uma espada seriam praticamente impossíveis, mas ele conhecia muito bem o misticismo e o medo dos cristãos, e daquela forma, se alguém pensasse:
            - Veja, uma vítima, haverei de atacá-lo. – Mas de fronte aquela “coisa”, fugiria em pânico, como se tivesse visto a própria personificação do Terceiro Cavaleiro do Apocalipse, a Fome, o qual Shverno havia tirado sua inspiração, pois, mais que a guerra ou a doença, a forme é o grande medo dos homens, dos quais, uma doença pode ser curada, a guerra termina e a morte é inevitável, mas não há como fugir da fome, que por sai causa as doenças, a guerra a morte.
Mãe de todos os suplícios humanos, que leva as pessoas aos mais extremos pontos da sua própria moral para ter o mínimo para comer, muitas vezes longe do ideal. Matar, morrer, roubar, saquear por causa da fome eram constantes neste mundo medieval onde pragas, a natureza e o homem ameaçavam plantações constantemente.
            Se essa vestimenta lhe foi útil de verdade, não é possível afirmar, pois até o momento, sequer uma alma viva havia cruzado por ele.
            - Seria por causa do cerco a Königsberg? – Pensava ele. – Mas não pode ser apenas isto, mesmo em cerco, pessoas vão e voltam para cidades em sítios, mercantes em busca de venda para os exércitos atacantes, ou para conseguir um contrabando de suprimentos para os sitiados. Negócio perigoso porém lucrativo, como os europeus haviam descoberto durante suas Cruzadas no Oriente.
Também, como qualquer guerra, nunca faltavam oportunistas tentando lucrar em cima do pobre campesinato, grupo mais atingido por estes conflitos, com ofertas de segurança, de milagrosas formas de proteção a seus pertences ou apena roubando-os.
            Por outro lado, haviam aqueles que se dirigiam as zonas de combate para lutar, seja pela causa de um dos lados ou apenas para venderem-se e suas habilidades de batalha como mercenários. Mas não desta vez, não ali, a estrada vazia, apenas ele, seu cavalo a floresta e a estrada.
            Perdido em seus pensamentos, um som lentamente invade sua mente, muito baixo, mas destoando do ambiente a sua volta, no início ele o ignora, mas este aumenta conforme avança, tornando-se perceptível uma música que vai ganhando forma em seus ouvidos..
            - De onde vem este som? – Interrompendo seus pensamentos mais profundos, continua agora, decidido a descobrir a fonte daquela melodia.

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