Shverno já estava na estrada a
mais de um dia, seus preparativos foram relativamente rápidos, com acesso a
vastos suprimentos pilhados daquela cidade, aos cavalos mais belos e bem
cuidados pertencentes aos nobres locais, não foi difícil deixar tudo em ordem e
tomar a estrada rumo ao seu destino, a cidade de Danzig, dentro do território
do Sacro Império.
De fato, era um grande risco para
ele ser capturado em território cristão sendo um sacerdote pagão, porém, havia
aprendido as habilidades do discernimento durante sua vida na casa de pessoas
que não eram seus familiares. Seus trabalhos como o sacerdote da Deusa da Morte
mostraram-lhe como ser discreto, pois raramente as pessoas gostavam de ter um
representante do longo sono ao seu lado, mesmo tendo reverência por esta deusa.
Este caminhava calmo pela
estrada, já havia percorrido uma boa distância naquele dia de viagem, mesmo com
o frio terrível que fazia e a grande tempestade do dia anterior, ainda era possível
seguir. Alguém que por ele passasse na estrada provavelmente veria a correr
desesperado em direção oposta, pois este parecia um cavaleiro do fim do mundo.
Sua preferência
pela cor negra, fez com que escolhesse tanto suas roupas como o cavalo desta
cor, o pesado manto que cobria a ele e ao cavalo também, ficando de fora desta
proteção contra o frio,apenas a cabeça de seu do cavalo, a sua própria estava
enterrada no fundo do capuz, dificultando a qualquer pessoa ver-lhe, uma figura
sinistra para encontrar-se em uma estrada medieval, cheias de mistério e
terror.
É claro que
se um grupo resolvesse atacá-lo, este bizarro cavaleiro teria grande
dificuldade em defender-se, dado que qualquer movimento com túnica tão grande,
ainda mais os de uma espada seriam praticamente impossíveis, mas ele conhecia
muito bem o misticismo e o medo dos cristãos, e daquela forma, se alguém
pensasse:
- Veja, uma
vítima, haverei de atacá-lo. – Mas de fronte aquela “coisa”, fugiria em pânico,
como se tivesse visto a própria personificação do Terceiro Cavaleiro do
Apocalipse, a Fome, o qual Shverno havia tirado sua inspiração, pois, mais que
a guerra ou a doença, a forme é o grande medo dos homens, dos quais, uma doença
pode ser curada, a guerra termina e a morte é inevitável, mas não há como fugir
da fome, que por sai causa as doenças, a guerra a morte.
Mãe de todos os suplícios humanos, que leva as pessoas aos
mais extremos pontos da sua própria moral para ter o mínimo para comer, muitas
vezes longe do ideal. Matar, morrer, roubar, saquear por causa da fome eram
constantes neste mundo medieval onde pragas, a natureza e o homem ameaçavam
plantações constantemente.
Se essa
vestimenta lhe foi útil de verdade, não é possível afirmar, pois até o momento,
sequer uma alma viva havia cruzado por ele.
- Seria por
causa do cerco a Königsberg? – Pensava ele. – Mas não pode ser apenas isto,
mesmo em cerco, pessoas vão e voltam para cidades em sítios, mercantes em busca
de venda para os exércitos atacantes, ou para conseguir um contrabando de
suprimentos para os sitiados. Negócio perigoso porém lucrativo, como os
europeus haviam descoberto durante suas Cruzadas no Oriente.
Também, como qualquer guerra, nunca faltavam oportunistas
tentando lucrar em cima do pobre campesinato, grupo mais atingido por estes
conflitos, com ofertas de segurança, de milagrosas formas de proteção a seus
pertences ou apena roubando-os.
Por outro
lado, haviam aqueles que se dirigiam as zonas de combate para lutar, seja pela
causa de um dos lados ou apenas para venderem-se e suas habilidades de batalha
como mercenários. Mas não desta vez, não ali, a estrada vazia, apenas ele, seu
cavalo a floresta e a estrada.
Perdido em
seus pensamentos, um som lentamente invade sua mente, muito baixo, mas destoando do ambiente
a sua volta, no início ele o ignora, mas este aumenta conforme avança,
tornando-se perceptível uma música que vai ganhando forma em seus ouvidos..
- De onde
vem este som? – Interrompendo seus pensamentos mais profundos, continua agora,
decidido a descobrir a fonte daquela melodia.
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