segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

S.n.E. - O Lobo Beberrão.


            Agora a música já está mais clara, sons de vários instrumentos podem ser ouvidos, uma flauta faz um som agudo, audível claramente a ele. A sua frente uma curva na estrada, que este vence calmamente em seu cavalo, ao terminá-la é que vem a descobrir de onde vinha o que ouvia.
            No lado direito da estrada, entre árvores enormes da floresta, em uma pequena clareira, que outrora certamente abrigara árvores, uma taverna de madeira, muito provavelmente construída da madeira daquelas árvores derrubadas. Ao seu lado, um estábulo com alguns cavalos e no outro lado, a base de uma árvore cortada e a seu redor, tocos de lenha e um machado. Do interior da taverna, uma luz emanava pelas janelas, risadas, conversas, e a música tocando alto enquanto copos batiam.
            - Vamos dar uma olhada.
            Na entrada da taverna, uma placa em língua tavernácula dizia: Pousada e Taverna do Lobo Beberrão.
            - Nome peculiar.
            Deixando seu cavalo no estábulo, vem a ele enquanto descendo com grande dificuldade, dada sua manta, o que fazer. Não poderia entrar no local com aquela cobertura toda, e não tinha onde deixá-la. A solução surgiu quando um homem aparentemente bêbado vem cambaleando dos fundos da construção, cambaleante, ao virar-se, para em posição estática olhando aquela coisa a sua frente. Sem mover-se, o pobre transeunte tentar falar algo, mas nenhum som sai, desesperado, começa a fazer o sinal da cruz de olhos fechados rezando baixo. Shverno observava-o, atento a seus movimentos, intrigado pelas palavras de desconjuramento que proferia, mas atento ao fato de que aquele homem, apesar dos efeitos dos álcool, não estava imune ao frio que fazia, seus dedos já mudavam para a cor roxa, tal qual seus lábios, sua pele arrepiada em uma inútil forma do nosso corpo proteger-se do frio.
            Vendo ele que não havia ameaça, resolveu-se remover aquela manta, que cobria-o de completo e ainda arrastava-se pelo chão, tal qual havia sido colocar, remover foi um tarefa árdua, exigindo esforço e paciência.
            - Que ninguém saia agora e me veja fazendo isso.
            Ele seria certamente atacado se outra pessoa o visse, ainda mais bêbado, dado a aparência grotesca daquela montanha de tecido movendo-se aleatoriamente. Porém, a festa lá dentro estava muito boa para alguém preocupar-se em deixar o local, já a única testemunha do que ali acontecia, se alguém pudesse sentir, veria que seu coração quase sai pela boca, seu corpo pressionava-se contra a madeira da taverna a medida que a era removida, dela saia aquele homem relativamente alto, cerca de 1,90, de constituição física avantajada, com músculos marcados por sobre sua armadura de couro, cabelos negros que alcançavam até seu pescoço e uma barba rala, dois olhos negros pontuavam sua face rígida e forte para um jovem de sua idade.
            Independente da figura uma ali a sua frente, aquilo foi demais para o bêbado que desabou, desmaiado, para surpresa de Shverno, que após observá-lo ali, sem muita esperança de retorná-lo ao estado alerta, resolveu deixar sua manta ali, cobrindo-o contra o frio.
            - O que estou fazendo?! Provavelmente deve ser um cristão que adora caçar lituanos. Devo estar ficando fraco.
            Balançando o gelo de suas vestimentas, dirige-se para a porta da taverna, com uma espada sempre pronta ao seu lado. Lá, outra música já se inicia, enquanto risadas cortam o som da música.
            - Que Dievas me proteja e ninguém descubra o quem sou.
            A idéia de Shverno era tomar uma bebida quente, conseguir informações sobre o que acontecia no Oeste, se possível dormir, e então continuar, nada de confusões, nada de brigas, muito estava em jogo para que este se arriscar-se. Mas a vontade muitas vezes anda longe da realidade...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Shverno na Estrada.


Shverno já estava na estrada a mais de um dia, seus preparativos foram relativamente rápidos, com acesso a vastos suprimentos pilhados daquela cidade, aos cavalos mais belos e bem cuidados pertencentes aos nobres locais, não foi difícil deixar tudo em ordem e tomar a estrada rumo ao seu destino, a cidade de Danzig, dentro do território do Sacro Império.
De fato, era um grande risco para ele ser capturado em território cristão sendo um sacerdote pagão, porém, havia aprendido as habilidades do discernimento durante sua vida na casa de pessoas que não eram seus familiares. Seus trabalhos como o sacerdote da Deusa da Morte mostraram-lhe como ser discreto, pois raramente as pessoas gostavam de ter um representante do longo sono ao seu lado, mesmo tendo reverência por esta deusa.
Este caminhava calmo pela estrada, já havia percorrido uma boa distância naquele dia de viagem, mesmo com o frio terrível que fazia e a grande tempestade do dia anterior, ainda era possível seguir. Alguém que por ele passasse na estrada provavelmente veria a correr desesperado em direção oposta, pois este parecia um cavaleiro do fim do mundo.
            Sua preferência pela cor negra, fez com que escolhesse tanto suas roupas como o cavalo desta cor, o pesado manto que cobria a ele e ao cavalo também, ficando de fora desta proteção contra o frio,apenas a cabeça de seu do cavalo, a sua própria estava enterrada no fundo do capuz, dificultando a qualquer pessoa ver-lhe, uma figura sinistra para encontrar-se em uma estrada medieval, cheias de mistério e terror.
            É claro que se um grupo resolvesse atacá-lo, este bizarro cavaleiro teria grande dificuldade em defender-se, dado que qualquer movimento com túnica tão grande, ainda mais os de uma espada seriam praticamente impossíveis, mas ele conhecia muito bem o misticismo e o medo dos cristãos, e daquela forma, se alguém pensasse:
            - Veja, uma vítima, haverei de atacá-lo. – Mas de fronte aquela “coisa”, fugiria em pânico, como se tivesse visto a própria personificação do Terceiro Cavaleiro do Apocalipse, a Fome, o qual Shverno havia tirado sua inspiração, pois, mais que a guerra ou a doença, a forme é o grande medo dos homens, dos quais, uma doença pode ser curada, a guerra termina e a morte é inevitável, mas não há como fugir da fome, que por sai causa as doenças, a guerra a morte.
Mãe de todos os suplícios humanos, que leva as pessoas aos mais extremos pontos da sua própria moral para ter o mínimo para comer, muitas vezes longe do ideal. Matar, morrer, roubar, saquear por causa da fome eram constantes neste mundo medieval onde pragas, a natureza e o homem ameaçavam plantações constantemente.
            Se essa vestimenta lhe foi útil de verdade, não é possível afirmar, pois até o momento, sequer uma alma viva havia cruzado por ele.
            - Seria por causa do cerco a Königsberg? – Pensava ele. – Mas não pode ser apenas isto, mesmo em cerco, pessoas vão e voltam para cidades em sítios, mercantes em busca de venda para os exércitos atacantes, ou para conseguir um contrabando de suprimentos para os sitiados. Negócio perigoso porém lucrativo, como os europeus haviam descoberto durante suas Cruzadas no Oriente.
Também, como qualquer guerra, nunca faltavam oportunistas tentando lucrar em cima do pobre campesinato, grupo mais atingido por estes conflitos, com ofertas de segurança, de milagrosas formas de proteção a seus pertences ou apena roubando-os.
            Por outro lado, haviam aqueles que se dirigiam as zonas de combate para lutar, seja pela causa de um dos lados ou apenas para venderem-se e suas habilidades de batalha como mercenários. Mas não desta vez, não ali, a estrada vazia, apenas ele, seu cavalo a floresta e a estrada.
            Perdido em seus pensamentos, um som lentamente invade sua mente, muito baixo, mas destoando do ambiente a sua volta, no início ele o ignora, mas este aumenta conforme avança, tornando-se perceptível uma música que vai ganhando forma em seus ouvidos..
            - De onde vem este som? – Interrompendo seus pensamentos mais profundos, continua agora, decidido a descobrir a fonte daquela melodia.

A Estrada para Frankfurt - Parte Final.


Seus corações palpitam, suor escorre-lhes a face, quatro mortos, e o grupo ficando cada vez menor, não fosse a intervenção de Hartmann, as coisas poderiam ter sido piores, todos talvez, tivessem perecido.
Markus agradecido cumprimenta seu subordinado com um abraço fraternal.
- Obrigado Hartmann, salvaste a vida de todos aqui. – Ainda ofegante.
- Não há o que agradecer-me Capitão, fiz apenas o que devia ser feito. – Sua voz grave era consonante com a imponência de seu porte.
- Salvaste mesmo a todos. – Schulz comenta, voltando-se então para Markus. – O que faremos agora Capitão?
- Temos de chegar a Frankfurt e avisar a guarnição. Talvez consigamos avisar o Senhor daquele feudo e fazer estas notícias chegarem ao Kayser.
- E o Bispo senhor?
- Teremos de encontrá-lo também.
- Algo me diz que ele tem mais conhecimento sobre esta história do que quer admitir. – Shculz.
- Também creio nisso. – Diz o capitão, após recuperar-se de uma tosse forte e insistente. – Se ele tiver algum conhecimento e tiver nos mandado para lá sabendo, ele irá se arrepender.
- Capitão, me permite um comentário? – questiona o gigante.
- Acho que devíamos continuar logo, o senhor parece debilitado, e este frio todo pode estar lhe piorando.
- Concordo. – Voltando-se para todos. – Vamos lá todos vocês, não há mais nada do que fazer neste antro infernal, caminhando.
- Sim senhor. – Respondem todos.
Puseram-se todos a andar novamente até a cidade de Frankfurt o que lhes tomaria algumas horas. Chegar a tal cidade era vital, pois lá, em um burgo que ganhava destaque dentro do feudo local, com uma grande livraria, uma universidade se estabelecendo, grandes feiras, haveria alguém que pudesse entender o que poderia ter acontecido.
O restante do percurso foi calmo, porém, não houve mais momentos de descontração, não houve risadas ou comentários jocosos, um silêncio sepulcral cortado pelo som do vento cortando pela floresta ao seu redor e os animais acordando com o nascer do Sol, os que ainda permaneciam na floresta mesmo durante aquele inverno rigoroso.
Sequer a lebre que passa correndo por eles, esfomeados, ganha atenção, ninguém tinha vontade de sacar um arco e caçar, não valia o esforço, queriam apenas chegar a cidade.
Porém, longe de trazer-lhes tranqüilidade, Frankfurt seria apenas o início de um novo inferno, o Capitão Markus trazia dentro de si, uma semente negra que encontraria um solo fértil naquela cidade populosa, sendo ele o causador de uma enorme desgraça sem saber ou jamais vir a conhecer.
Ao longe os portões da Muralha de Frankfurt despontavam no horizonte para alegria daqueles homens, Markus internamente era tomado por uma grande alegria, também uma enorme dor. Seu ferimento na mão agora vertia sangue profusamente, uma ardência nos olhos revela uma mancha de sangue que ninguém percebera.
Ele morria, sem saber...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

E.p.F. - O Gigante - Parte 2.


            - Capitão, você ainda está vivo?! – Fala Hartmann quando passa por este, parado no mesmo ponto de antes, inerte. – Onde estão os outros lobos, eles não o atacaram.
            - Não Hartmann, eles passaram direto por mim.
            - Maldição! – Exclama o gigante. – Foram atrás dos outros. – Vamos Capitão.
            - Sim. Eles não terá chances.
            - Certamente.
            Os dois correm para encontrar seus amigos. A frente deles, a situação é crítica, os lobos já alcançaram-nos.
            - Mais rápido homens, não deixem que cheguem perto de nós. – Grita Schulz a seus amigos.
Atrás deles um dos lobos alcança-os, o soldado virando seu corpo vê duas enormes patas, estas pressionam para baixo, com enorme força, suas pernas falham, perdendo o equilíbrio, despenca, no chão, não há chance de luta, com uma mordida direto no rosto, inibe a vítima de resistência.
O outro lobo agora vem em direção de Schulz, que havia desviado de seus amigos para ajudar o companheiro em perigo, este, percebendo que será o próximo, coloca-se de prontidão com a espada preparada. E vem o ataque, pulando sobre ele, o lobo prepara sua mordida, Schulz, sabendo ter pouca chances em um ataque frontal, joga-se para trás, caindo de costas no chão, deixa sua espada erguida, enquanto o animal cai sobre ele, o golpe perfura o dorso do animal, atravessando-o por completo, sua mão livre segura a cabeça do animal logo abaixo da cabeça, presa firmemente ao pescoço dele.
O animal emite um grunhido e fica imóvel, um pouco relaxado, Schulz começa a mover-se para sair dali, mas antes de poder livrar-se, percebe os músculos do pescoço do lobo movendo-se.
- Ele não morreu. – Pensa ele. E não havia morrido mesmo, parecido despertar de um sono, de imediato o lobo tenta atacar o rosto do soldado ali caído o qual afasta-o usando o braço, mas não aguentará muito naquela situação.
Seu algoz ganha espaço, cada vez mais próximo, Schulz, em um esforço sobre humano, urra de ódio, juntando todas suas forças para que mantenha-o afastado. Conseguindo afastá-lo um pouco, move sua outra da espada para o pescoço, isso lhe dá uma base melhor para sustentar seu atacante longe. Um impacto e o animal sai girando de cima dele, sem entender o que aconteceu, percebe uma enorme mão estendida em sua direção, é Hartmann, que olha-o com seu martelo erguido sobre sua cabeça.
- Vamos irmão, saia deste chão gelado. – Comenta.
- Obrigado Hart, mas cuidado, há outro lobo.
- Não há mais. – Responde ele, enquanto caminha para terminar com o último do grupo, enquanto Markus, já em controle de si mesmo, havia aproveitado a distração do lobo que comia para cravar a espada diretamente em sua cabeça.
O Gigante caminha até o lobo caído, sua coluna destroçada, que sem poder mover-se rosna freneticamente.
- Morra criatura infernal. – Diz ao desferir o golpe final contra ela.

E.p.F. - O Gigante.


- CORRAM!!! – Berrava Markus, atrás de si, vinha os 8 soldados restantes, e um dos lobos, mais um logo se junta  a caçada, os outros lobos estão ocupados com suas presas, não demorará porém, que juntem-se a caçada.
- AHH!!! – Grita um dos soldados quando atacado pelo primeiro lobo, uma mordida certeira em seu pescoço e este já cai sem vida. Seus colegas vem apenas de relance, muito concentrados em salvarem a si mesmos, Markus, percebendo que seriam abatidos um por um desta forma, dá uma ordem a Schulz.
- Mantenha os homens correndo até Frankfurt. – Toda aquela corrida estava lhe causando uma enorme dor pelo corpo, mas isso não era importante agora. – Eu manterei estas criaturas ocupadas o máximo de tempo possível.
- Mas senhor, eles são muitos, o que você pode fazer?
- Não discuta Schulz, mantenha os homens vivos.
- Mas...
- Não é hora para isso. – Suas palavras eram firmes. Toda esta troca de ordens acontece em um período muito curto, o lobo que continuava em seu encalço parece agora focado no Capitão, o qual, já desembainhando sua espada, diminui seu ritmo, preparando-se para o confronto.
O lobo agora, focado totalmente em sua presa imóvel a sua frente salta, com a boca preparada para abocanhar o pescoço, Markus por sua vez, está com espada em mãos, observa aquele monstro vindo em sua direção, o que é um ataque de segundos, parece acontecer em câmera lenta, seu coração pulsa tão forte que pode o sentir pelo corpo, batendo vertiginosamente, o momento chega, é hora do contra-ataque.
            O lobo está a poucos metros dele, o movimento da espada tem de ser perfeito, o golpe deve sair diretamente em sua cabeça, cortando-a, e em um instante, ele começa o movimento, mas para sua surpresa e terror, seu braço não se move apenas um feixe de dor percorre-o, mas não era do ataque do seu algoz, mas sim seu corpo rejeitando sua ordem, ele curva-se, mais um segundo e sua vida estará terminada.
Com o canto do olho, ele percebe algo aproximando-se pelo seu lado, parece um objeto, a boca do lobo está a cerca de um metro dele, tudo corre com uma lentidão assustadora diante dos seus olhos, os dentes amostra deixam claro o poder daquela fera, de súbito, um som seco e um ganido. Instintivamente tendo fechado os olhos, espera o pior sem ver o que acontece, passam-se segundos e nada, abrindo-os novamente, vê o corpo do lobo caído metros a sua frente e o gigante Hartmann correndo com seu enorme martelo nas mãos, a cabeça do lobo está totalmente destroçada pelo impacto.
            Quando Markus voltou para defender o grupo, Hartmann, um homem de cerca de 2,10 de altura, conhecido por não ter medo de nada, e dono de uma força descomunal tanto quanto uma percepção muito boa, ouviu a ordem dada ao soldado Schulz pelo seu capitão, e tendo percebido o quão debilitado este estava, sabia que não teria nenhuma chance, seria logo abatido decidiu voltar com este, mas sem que ele percebe-se, pois certamente não aceitaria ajuda.
O lobo aproximou-se do Capitão e este hesitou em seu ataque, foi então que Hartmann, com seu pesado martelo de guerra entrou em ação, girando o sobre sua cabeça e ao mesmo tempo seu corpo, desfere um certeiro ataque na cabeça momentos antes deste alcançar Markus, o crânio esfacela-se imediatamente dado o impacto, que de tão violento, quebra sua espinha e desvia-o de seu trajeto, fazendo o cair metros longe.
            Não há tempo para descanso, os outros lobos aproximam-se, a matilha inteira, são mais quatro, um deles avançado vem em direção a ele, enquanto outros dois ignoram-os correndo para o grupo maior a frente,  e o último deles segue para Hartmann. O primeiro dos lobos pula em direção ao gigante, que desvia dando um passo para trás lançando seu martelo ao chão desembainha sua espada, com uma de suas enormes mãos segura o pescoço da criatura cravando sua espada diretamente no olho desta, que debate-se freneticamente, percebendo a aproximação do outro lobo, atira o corpo que está em seus braços contra este, que com o impacto direto cai, atordoado dando-o tempo de buscar seu martelo. Quando o lobo atingido começa a levantar-se, por cima de sua cabeça, um pesado martelo corta o ar com um som estridente, indo impactar-se diretamente no animal, afundando sua cabeça dentro da neve e esmagando-a contra o chão da estrada.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

E.p.F. - Morte na Estrada


            - Não há nada Capitão. – Continua Moritz, sem abaixar o tom de voz. – Dietrich, você está bem?
            - Estou muito cansado, preciso parar. – Responde.
            - Não podemos parar, temos de continuar até Frankfurt. – Markus fala para seu subordinado. – Este local não é seguro.
            - Pare de delirar Capitão, o senhor está fora de si. – Sua voz ainda alta. – Não há perigo.
             - Como não havia perigo nenhum na vila, e agora 40 dos meus homens estão mortos por pessoas que os comeram vivos. – Sua voz já exacerba raiva.
            Moritz fica em silêncio mas logo volta ao debate.
            - Mas não é o caso agora, precisamos descansar para poder continuar.
            - Não, vamos avançar, quem não puder andar, que peça ajuda. – Apontando para Dietrich e Moritz. – Isso inclui vocês.
            - Não Capitão, eu não irei, nem o Dietrich, ficaremos aqui e nos recuperaremos antes que seus devaneios matem a todos nós, quem quiser que fique conosco e sobreviva.
Outro soldado, Rudolf, vem para o lado de seus amigos, passando pelo capitão que parece ignorá-lo. A meio caminho entre o Capitão e os dois outros soldados, ele ouve um grito do Capitão.
            - CUIDADO! - Apontando para uma parte da floresta.
Voltando-se para o lado, tem ainda tempo de perceber uma silhueta se movendo em sua direção, uma enorme pressão faz com que seu corpo despenque para o chão, um cheiro pútrido emana até sua narinas, então a dor e tudo fica escuro.
Seus amigos podem fazer pouco para evitar que aquela coisa lhe arranque a vida com uma mordida diretamente em sua jugular, sangue jorrando de seu pescoço. A vida já havia o deixado quando seu corpo começa a ser devorado.
            Dietrich e Moritz ficam separados de seus amigos, com um súbito golpe de energia circundam a criatura e juntam-se ao resto deles. Da floresta outra desta aparece, e caminha em direção a eles, logo ficando sobre a luz das tochas.
            - Meu Deus, o que é isso? – Moritz grita.
- É um lobo. 
- Acho que foi a silhueta deste monstro que vi na floresta antes de desmaiar. – Comenta Carl enquanto aquele lobo avança sobre eles.
- Olhem o rosto dele, este animal deveria estar morto.
- Como as pessoas daquela cidade.
 Verdadeiramente, aquele animal estava morto, ao menos em aparência. Parte do sua cabeça não possui pele, seu focinho deixa os ossos amostra, o lado direito do animal possui nacos de pele e carne podre por sobre as costelas, uma das patas tem seus músculo expostos. Uma verdadeira criatura infernal. 
Aquela criatura putrefata para diante deles, com seus dentes amostra tanto como sinal de ameaça como pela falta de carne no rosto, porém, Markus percebe que aquele não é o padrão normal de caça de um lobo, ou sequer defesa de território, uma alcateia é sempre maior, e ali estão dois lobos, ou outros estão escondidos ou estes dois não estão agindo da forma comum, nem mesmo a postura é de caça, aquilo é apenas ameaça, estão atacando não para defender a cria ou o território, mas por algum desejo bem mais brutal, comer, que é o que faz o outro lobo com seu colega morto.
Todos sabem que lutar não é a resposta, confirmada pelo surgimento de um terceiro lobo da floresta, que voa diretamente no rosto do soldado Gregor, este solta um breve som antes de morrer. Markus ordena imediatamente que todos corram em direção a Frankfurt e é o que fazem, sendo seguidos por aquele lobo que estava parado, Moritz tenta defender-se com a espada ao invés de correr, desferindo um golpe em direção ao animal que por pouco consegue desviar mordendo seu braço. Os ossos quebram enquanto a criatura pressiona-se contra seu corpo derrubando-o, sangue lava a neve. Por sorte, consegue desviar uma mordida da criatura, segurando seu focinho com as mãos, da sua boca, um odor fétido é emanado, uma baba pestilenta pinga sobre seu rosto.
Esse golpe de sorte não dura muito, outro logo surge tornando impossível a resistência, uma mordida em seu outro braço debilita-o demais para resistir, seus músculos sedem a força daqueles animais, tamanha dor faz com que desmaie, em segundos, seu corpo está sendo consumido pelos lobos.

E.p.F. - Parte 5.


Os soldados não entendem o que aquela súbita explosão do Capitão significa, mas ele não para de comandar os soldados, sua voz apesar de firme, parece mais baixa, como que para evitar o barulho. Schulz aproxima-se dele:
- O que há Capitão, por que temos de sair, podemos passar a noite aqui. – Argumenta. – Corremos risco de encontrar outra tempestade.
- Não podemos, temos de sair daqui, rapidamente.
Ao fundo alguns homens juntavam suas coisas enquanto conversavam com Carl.
- E você não chegou a ver estas criaturas que você falou?
- Não vi, nem ouvi sequer, mas com certeza, um predador.
- Provável.
- Vamos homens. – Ordena novamente o Markus.
- Capitão, por que temos de sair daqui. – Grita um dos soldados.
O Capitão enfurecido gesticula para que este faça silêncio, indo até ele chama todos para que possam ouvir.
- Digam-me, o que vocês ouvem?
Todos para e tentam prestar atenção a sua volta.
- Nada Capitão.
- Exato, apenas a neve, a floresta está em silêncio novamente, e isso não quer dizer boa coisa, florestas não são silenciosas.
- Sim Capitão, mas... – Carl ia comentar.
- Mas estamos sendo seguidos desde antes de encontrarmos o Carl.
Uma sensação de gelo na espinha percorre a todos ali, que olham-se com suas faces tomadas em medo.
- Por quem Capitão? – Pergunta um deles.
- Não sei, porém, não pretendo descobrir. – Virando-se. - Agora mecham-se
Todos prontamente põem-se a arrumar o resto de seus pertences, um deles procura apagar o fogo jogando gelo sobre a fogueira, o capitão continua a observar a floresta. Apesar de debilitado como sua aparência demonstrava, todos não ousariam questionar um caçador exímio como ele, com grande entendimento da natureza, como este possuía.
Com tudo arrumado e o local limpo, novamente, estes voltam para a estrada apenas iluminada pelo fogo de suas tochas naquela noite escura, faltavam ainda horas até o amanhecer, e o caminho até Frankfurt era longo. Por ordem do Capitão, cada homem deveria cuidar de uma área, com isso, um deles deveria cuidar de sua retaguarda, com isso, voltando-se para ela constantemente, algo desconfortável, porém necessário em situação de risco, acentuado pela escuridão a sua volta.
A princípio, o caminho parecia mais calmo agora, uma brisa leve, porém gelada batia em seus rostos, a neve caia lenta, acumulando-se sobre o solo já branco dela. Os homens caminhavam próximos, falando baixo unicamente, por ordem do Capitão, risos ou conversa em tom de voz alto haviam sido proibidas.
Um dos soldados rezava silenciosamente, com um crucifixo em uma mão e tocha em outra, outros ficavam apenas em silêncio, tentando manter-se acordados, pois a exaustão já começava a tomar conta deles.
            Já havia cerca de 45 minutos que haviam deixado sua última parada, sem nada de ruim acontecer.
            - O Capitão deve estar ficando louco. – Comenta um dos soldados atrás do grupo no ouvido do seu companheiro que apenas ri e confirma com a cabeça.
Um dos soldados, Dietrich começa a lentear seu passo, ficando para trás, outro parceiro seu, Moritz percebe e volta para ajuda-lo, chamando atenção do grupo com um grito.
            - Pessoal, o Dietrich não está bem. – Isso enche de fúria o Capitão que volta até eles.
            - O que eu falei sobre ficar em silêncio?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

E.p.F. - Parte 4.


- Fale Carl, o que houve com você e com os outros.
            - Eu... eu... eu não sei. Estávamos posicionados dentro da floresta... observava a vila, como o Capitão mandou, mal víamos suas tochas percorrendo o centro, e a tempestade piorava, de repente os gritos começaram a surgir em meio ao ruído da neve. – Pigarreando. – Nós pensamos que vocês tinham começado a exterminá-los, o Joachim foi para perto da saída para a estrada, cuidar se alguém tentava fugir.
            - Sim, continue.
            - Ninguém saia, ficamos ali então, parados, conversando apenas. – Suas mãos tremem. – Então que ouvimos gritos vindo de algum local estranhamente perto. Não dava para ter certeza de onde vinham.
            - Mas você disse que ninguém saia da vila.   - Um soldado sentado comendo pergunta de boca cheia.
            - E não era, era o Joachim, eu e o Fritz fomos verificar, Geert e Heinz ficaram lá observando a cidade. – falava olhando para o chão, tentando recuperar suas lembranças. – ao chegar onde o Joachim estava, eu vomitei na hora, seu corpo dilacerado manchava de sangue a neve a sua volta. Estava tudo exposto, alguém havia comido sua carne.
            - Alguém conseguiu sair da vida e ataca-lo? – Pergunta Schulz.
            - Não, aquilo não era humano. – Responde.
            - Nem aquelas pessoas, foi o próprio Diabo. – Outro soldado completa.
            - Não, aquilo era animal. – Suor descia pelo seu rosto. – Ao me recuperar, desembainhei minha espada, Fritz já estava em guarda. Mas, onde estavam Geert e Heinz, novamente gritos, disparamos até eles, eu na frente.
            - Mortos? – Pergunta Markus, de costas.
            - Sim, quando cheguei lá, apenas o corpo de Heinz estava lá destroçado, Geert havia desaparecido.
            - Espere um minuto, só você chegou lá. E o Friz. – Schulz questiona. – O que houve com ele?
            - Não sei, ao me virar, ele não estava mais lá. No chão, uma marca de sangue, mas nada de corpo.
            - E você foi atrás dele? – Um soldado alto, encostado no muro de terra atrás deles pede.
            - Não, eu sentia que seria o próximo inevitavelmente, não entendia o por que havia sido poupado, mas agradeci ao Senhor e corri para a estrada, para o lado o oposto a vila, porém, fiquei exausto por causa da tempestade de neve, mal conseguia respirar e desmaiei.
            - Rá! De fato, um covarde, ao invés de procurar o Fritz ou ao menos nos avisar, preferiu fugir. – Um de seus companheiros vocifera para ele. – Devíamos tê-lo deixado morrer.
            - Calado Leopold. – Comanda o Capitão. – Também fugimos da vila abandonando nossos companheiros a morte.
            - Mas Capitão, a situação foi diferente e...
            - Silêncio!
- Sim capitão. – Alguns deles se olham, percebendo que o Capitão está novamente no controle da situação, este por sua vez torna a cuidara floresta, perceptivelmente algo o incomoda nela.
- Prossiga Carl.
- Não há mais o que falar, Meu Senhor, depois disso acordei sendo ajudado por vocês.
- Senhor, o que você acha... – Ia Schulz pedir ao Capitão, que o interrompe de forma brusca.
- Temos de sair daqui imediatamente, peguem suas coisas e vamos. – Antes que alguém pudesse falar ele completa. – É uma ordem.

E.p.F. - Parte 3.


- Com que madeira você quer fazer isso? Vai tirar o gelo no grito? – Outro deles comenta, com aquele humor que só o desespero consegue criar. – Talvez se você ficar olhando com essa cara horrível o gelo fique assustado e vá embora.
Algumas risadas ajudam a quebrar o clima tenso. Outros arranjam forma de sentarem, próximos, para não haver perda de calor. Como todo bom soldado da sua época, nenhum deles saia para uma missão sem estar com seus cantis de água cheios de algum destilado, aqua vitae como os alquimistas referiam-se a ela, na verdade, era comum o Hausbrand, um tipo de destilado de vinho que ficava cada vez mais famoso entre a plebe. Se a aqua vitae era um líquido purificado, logicamente também o corpo ficaria purificado após beber.
             A comida tratava-se de alguns nacos de linguiça e alguns potes pequenos com chucrute e os pedaços de pão que aquelas bolsas pudessem suportar. Os cantis com os destilados ou mesmo a saborosa cerveja passavam de um a outro, um pequeno teto de  galhos caídos de carvalhos e pinheiros fora improvisado por outros dois deles, desta forma, melhor abrigados, poderia ficar a par do que aconteceu.
            - Sente-se Carl, tome um gole e coma, você está muito ferido. – Schulz cuidava do seu colega. – Vou ver como está o Capitão, volto logo.
            - Sim Schulz.
Virando-se, estavam dois dos soldados cuidando do capitão, que já retomava seu estado normal e com isso, o controle sobre seus homens.
- Por que paramos? – Pede ele.
            - O senhor delirava em febre e o Carl estava muito assustado, com isso, não conseguiríamos avançar muito mais. – Schulz sentia-se obrigado a explicar-se perante o Capitão o qual sempre fora seu comandante. – Lamento tê-lo desrespeitado Capitão.
            - Pelo contrário Schulz, sua decisão foi... – Algo como um raio percorre o braço de Markus, interrompendo-o pela sensação de ardência e dor.
            - Está tudo bem Senhor. – Pergunta Schulz, aproximando-se.
            - Sim, está tudo bem. Mas não podemos ficar por muito tempo aqui, o que aconteceu lá tem de ser reportado ao comando em Frankfurt. – Dando uma longa golada no Hausbrand do cantil.
            - Sim Senhor. – Confirma Schulz. – O que o senhor acha que aconteceu lá?
            - O Diabo está lá, como o Sacerdote falou. – Outro soldado responde atrás dos dois.
            - Com certeza, vocês viram o que eles faziam? – Um deles segurava um pedaço de linguiça trêmulo. – Eles estavam comendo-os vivos.
            - Eles não morriam, como pode? – Um terceiro. – Eu feri a espada o tronco de um, e ele continuou vindo para cima de mim.
            - O Demônio não morre. – Outro.
            - Chega de tolices. – Markus levanta-se, com alguma dificuldade, dando passos em falso, apoiando-se em um dos seus soldados. – Vocês não notaram que eles não se levantavam mais depois de decapitados?
            - Não senhor. – Respondem todos.
            - Pois bem, eu gritei a todos, porém, a tempestade deve tê-los impedido de ouvir.
            - Mas nenhum homem sobrevive ao corte de uma espada em seu estômago. – Novamente o soldado retruca. – Eu cortei o braço de outro e nada, sem dor, sem cair, ele continuou vindo.
            Markus, ficando silencioso, passa a observar a floresta negra a sua volta de forma meticulosa, seus companheiros observavam-no, sem entender o por que ele fazia isso, seria a dor ou os delírios que estava tendo pensavam, alguns já se questionavam como poderiam ser liderados por ele se o mesmo não conseguia fixar seus pensamentos, Carl já mais calmo é trazido ao meio do pequeno grupo para que possa dizê-los o que aconteceu.

E.p.F. - Parte 2.

- É um dos nossos Capitão. – Grita o soldado que aproxima-se primeiro do corpo. – É o Carl. Está vivo.
            - Venham, ajudem a levantá-lo. – Aponta o capitão ao homem ali. – Como você veio parar tão longe?
            O soldado em estado de choque apenas gagueja coisas sem sentido, seus amigos removiam o sangue da sua face, tentando acalmo e aquecê-lo pois seu estado de hipotermia já estava muito avançado, neste ritmo teria morrido em meia hora, mas mesmo eles corriam de padecer ali naquele local.
Aos poucos a lucidez parecia voltar a ele, seus olhos, todavia ainda possuíam um rastro de terror extremo, não havia tempo para parar com isso, já estavam novamente andando, o intervalo que a tempestade havia lhes fornecido era usado para que pudessem trocar informações, organizar-se, foi neste ambiente que o soldado conseguiu voltar a falar.
            - Carl, tu havias sido destacado para ficar no flanco daquele maldito vilarejo, por que fostes parar aqui? – O capitão sentia uma raiva estranha, sem sentido. – Abandonaste teu posto e teus irmãos a morte? Onde estão os outros?
            - Senhor, eu...
            - Você o quê? Fugiu ao som dos gritos daqueles que dariam a vida para te defender? Ou sequer chegou a ir para onde havia ordenado? – Uma gota de suor escorria sua face em contraste com aquele intenso frio, rapidamente se congelava? – Homens como você me dão nojo.
            - Capitão, tenha calma. – Um dos soldados dizia enquanto caminhavam pela estrada. – Vamos ouvi-lo.
            - As palavras de um covarde não tem validade.
            - Capitão eu...
            - Cala-te covarde. – Partindo para cima dela, Schulz é completamente tomado pela raiva, não contém-se, apenas quer vingar-se da culpa que aquele soldado sequer sabe que tem, na verdade, nem ele mesmo sabe do que sente tanta raiva.
A caminhada é interrompida por esta súbita briga, alguns protegem o soldado ferido enquanto outros seguram o capitão, tentando acalmá-lo. Neste movimento que um deles percebe que o mesmo está febril.
            - Capitão, o Senhor está ardendo em febre.
            - Calado insolente, não aceitarei este tipo de insubordinação.
            - O que houve com você e o resto Carl? – Pergunta Schulz, ignorando os delírios do Capitão. – Alguém jogue gelo no capitão até ele voltar a si.
            - Eu... Eu não fugi, o capitão está enganado.
            - Sim irmão, sabemos disso, o Capitão está delirando, conte-me o que houve.
            - Eu preciso parar, não aguento mais.
            - A neve está diminuindo, devíamos parar e nos aquecer. – Um dos soldados comenta.
            - Ali, há uma clareira. – Aponta outro.
            - Maldita floresta silenciosa. – Um terceiro completa, fazendo com que todos voltassem a lembrar da silenciosa floresta.
            - Vamos parar um pouco. – Schulz comanda. – Como está o Capitão?
            - Está melhorando. – Um dos soldados que estava a cuidá-lo responde.
            Ele estava bem, silencioso, o gelo direto no rosto fizera efeito e o mesmo recuperava-se do delírio, ainda suando, mas sentindo a dor interna diminuir. O resto do grupo seguiu para o local apontado, não era mais seguro que a floresta, porém, a forma arqueada da terra ao seu lado permitia que o calor ficasse mais retido, impedindo o vendo de circular livremente, era como uma espécie de caverna naquele local. E por ali ficariam por um tempo, até suas forças voltarem.
            - Alguém tem comida? – Um deles já arrumando um pedaço de madeira para sentar. – E se fizéssemos fogo?

A Estrada para Frankfurt.

            Uma vez fora da vila, a situação melhorou um pouco para aqueles poucos sobreviventes, dos cinquenta soldados iniciais, restavam apenas dez, outro dez haviam dividido-se em grupos de cinco para flanquear a vila, o capitão não podia dizer se estavam bem ou não, mas não havia tempo para procurá-los ou poderiam todos perecer. Na sua frente, branca e mal iluminada pelo fogo daquelas tochas estava a estrada pela qual vieram, o frio era imenso, mas não havia uma opção melhor, ficar ali seria morte certa, mas voltar para aquele inferno que queimava atrás deles não iria alterar a situação.
            - Avancem homens. – O som da tempestade impedia que ouvissem uns aos outros claramente, seus rostos queimados pela neve, por sorte suas roupas de soldados eram quentes o suficiente para não deixa-los morrer de hipotermia.
            Mantinham-se perto um dos outros, guiando-se pela luminosidade das tochas, já estavam a algumas dezenas de metros longe da vila quando, mesmo em meio a tempestade um uivo se fez ouvir, o intenso frio não impediu que sentissem um gelo em suas espinhas, não era possível correr, pois o risco de o grupo afastar-se e ficar exposto era grande, cada um precisa da proteção e calor do companheiro ao lado.
Mas o uivo único agora havia aumentado, tão altos que o som da tempestade parecia ceder diante daquela espécie de lamento tenebroso.
            - Capitão...
            - Andem soldados, mantenham-se próximos.
           Uivos. De forma instintiva os passos ficavam mais rápidos, o clarão da vila em chamas ficava mais fraco, porém os uivos aumentavam.
           Andaram pelo que parecia uma eternidade, seus passos apressados exigiam muita força dado o acúmulo de neve na precária estrada, o que sem perceberem, diminuía o espaço por eles percorrido. 
            - A tempestade parece estar amenizando homens, ainda temos uma chance, mantenham-se andando.
De fato, a neve ainda vinha, mas menos intensa, era possível ver mais a frente, não de forma clara, mas ainda assim melhor do que até momentos antes.
            - Todos, mantenham-se próximos e sobreviveremos.
            - O que foi aquilo Capitão?
            - Não sei Schulz, mas aposto que o Bispo tem idéia.
            - O senhor foi ferido? - Pergunta outro soldado.
            - Sim, mas não foi nada demais. – Porém, sua mão doía muito e uma sensação estranha começava-lhe a correr o braço. – Alguém mais está ferido?
            Um a um todos foram respondendo que não, enquanto continuavam a andar a  neve agora caia fraca, tudo parecia acalmar-se, nem mesmo os uivos eram ouvidos, apenas a estrada mal iluminada por suas tochas e a floresta densa a sua volta.
            - Ouçam. – Disse um deles.
            - Não estou ouvindo nada, nem mesmo o vento.
            - Exatamente, mesmo a noite, uma floresta jamais é silenciosa. – retoma outro soldado. – A não ser que...
            - Que algum perigo faça com que os animais permaneçam em silêncio. – Emenda o capitão.
            - Nem os malditos lobos estão uivando mais. – Outro soldado.
            - Se é isso, temos de achar um abrigo logo, não sei por quanto tempo iremos conseguir ainda. – Fala Schulz, o soldado.
            - Você tem razão, mas não há muito entre a vila e o próximo Burgo.
            - Senhor, veja.
          A frente deles, alguns metros, alguma coisa jazia na estrada, todos temerosos, aproximavam-se com espadas já em mãos. No chão um corpo ensanguentado de costas para o chão respirava ofegante, era um dos soldados do grupo que havia se separado para flanquear o vilarejo.

A.V.d.H. - Parte 4.

            O pânico não tardou a se instalar, e já não havia mais hierarquia ou comando, as ordens do Capitão para organizarem-se para sair dali não eram ouvidas, os soldados corriam, desesperados e mais daquelas coisas saiam das casas, das ruas, de todos os cantos, dos poucos iniciais, uma pequena multidão se formava. Na floresta, os soldados que esperavam para cercar os fugitivos ouviam os gritos, sem saber de quem eram, julgavam ser das pessoas que vieram para exterminar. Um deles, observando a estrada, vê algumas pessoas vindo entre a nevasca, caminhando na direção oposta da cidade. Cutucando um de seus colegas ele comenta:
            - Veja lá, alguns tentam fugir.
            - Mas se fogem, deveriam estar correndo e não andando.
            - E daí? Quem sabe algumas garotas estejam lá, podemos ter sorte ainda. – Outro comenta, enquanto seus colegas riem.
            - Vamos lá checar nossa sorte então.
            Saem todos da floresta, com suas espadas e tochas em mãos, caminhando em direção aquele grupo, na frente deles uma figura está mais adiantada, é a este que um dos soldados se dirige.

            - Vão à algum lugar? -Silêncio.
            - Eu pedi se vão a algum lugar. – Caminhando em direção a uma das pessoas.
            - Aquela ali parece ser mulher, e das bonitas. – Um dos soldados aponta com a espada. – Vamos lá.
            Ao aproximarem-se daquelas pessoas que andavam com cabeça meio baixa o soldado pede novamente.
            - Aonde pensam que vão? – Mas apenas silêncio.
            - Nossa! Aonde uma moça tão bonita vai a essa hora? – O soldado que aproximava-se da mulher, que nada responde. – Eu falei com você sua vadia suja.
Ao levantar a cabeça da mesma com a mão, ela agarra-o no braço e morde forte entre o espaço do seu polegar e dedo indicador. Com o pé, ele afasta a, empurrando na altura do estômago, ela cai logo a frente na neve. Já o soldado solta a espada para tentar estancar o sangramento, seu colega ao lado olhando o que acontece não vê o homem a sua frente quando este ataca-o, apenas sente um peso enorme sobre seu corpo e o sangue quente escorrendo lhe pelo rosto. Cai se debatendo, enquanto sua carne é arrancada do corpo.
Os outros soldados assustados parte para defender seu amigo, um deles corta o pescoço de outro dos atacantes, fazendo a cabeça rolar longe enquanto o corpo cai.
            Já os outros dois cravam suas espadas no fundo dos corpos dos algozes que longe de morrer, avançam mesmo com a espada ali, em seu corpo, isso pega os soldados desprevenidos, que não sabendo o que fazer, tentam cravar mais fundo e torcer a espada, mas nada além de urros saem das bocas fétidas das pessoas ali. Um a um, vão sucumbindo sobre as bocas e mãos daqueles seres que recusam-se a morrer sobre suas espadas, logo a neve fica tomada de sangue, enquanto a carne alimenta os mortos vivos ali. Na vila os gritos continuam.
            - Queimem a vila. Matem todos. – Comandava o Capitão Markus, com gestos de sua mão, em um destes movimentos, seu braço é abruptamente parado e de canto de olho, ele percebe que uma daquelas criaturas segura-o, com um rápido movimento de seu outro braço, crava a espada no alto da cabeça do seu atacante, mas não antes de ser mordido na parte superior da mão, o corpo da criatura repentinamente fica mole e deixa de exercer resistência sendo empurrado para o lado.
            - A cabeça, ataquem a cabeça. – Grita a seus soldados, mas estes ou lutam com aquela agora multidão de mortos vivos que os atacam, ou fogem, alguns não conseguem escapar, sendo comido vivos por grupos, muitos tentam fugir para as casas, mas aquelas criaturas parecem ter uma ótima visão e os seguem no passo lento da morte. A vila queima com tochas arremessadas sobre os telhados de palha, pelo chão, soldados debatem-se em vão contra as mãos que apertam seus corpos e arrancam sua carne.
            - Vamos sair daqui. – comanda o capitão a alguns soldados que ainda consegue ouvir e ver, estes com suas espadas, defendem-se dos atacantes desferindo golpes certeiros, amputando membros arrancando gritos profundos de um misto de dor e ódio irracionais, mas para sua surpresa, apenas alguns deles não voltam a levantar-se.
            - Senhor, estas coisas não morrem. – A voz de um deles cortava pelas rajadas de neve e o som da tempestade que intensificava-se.
            - Cortem as cabeças. – Sua mão doía muito apesar do pequeno ferimento. – Vamos voltar a Frankfurt, venham.
            O pequeno grupo de soldados começa a avançar enquanto seus amigos são comidos a sua frente, a neve e a noite tornam a visão impossível, cada soldado carrega uma tocha para que possa ver alguns metros a sua frente, mas isso é uma atração para as criaturas que inertes em algum ponto, passam a avançar sobre eles, em seus passos lentos, fáceis de escapar com uma corrida, mas o número elevado deles fechando-se como uma parede.
            - Corram se querem viver, por aqui. – Aponta o capitão, quase em vão dadas as circunstâncias.

A.V.d.H. - Parte 3.

- O que é?
            - Um corpo. – o soldado, virando-o, vomita instantaneamente ao ver os órgãos expostos daquele corpo, já cozidos do gelo que acumulava-se sobre e envolta a ele. – O que é isso meu Deus.
            - Todos, estejam preparados. – Imediatamente todos desembainham suas espadas. Enquanto outros terminam de acender as tochas.
            - Senhor, há marcas de sangue por toda a vila, outros corpos também, parece que alguém já fez nosso serviço.
            - Vasculhem as casas, vejam se alguém está vivo. – Os músculos do seu corpo já estavam tensos.
            De porta em porta, os soldados iam abrindo-as, verificando seus interiores, alguns voltavam e caiam de joelhos sobre a neve. Outros vomitavam. Quem estivesse perto podia sentir o pútrido cheiro de carne podre que advinha de algumas delas.
            - Corpos Capitão, as casas, as ruas, alguns pareciam tentar fugir.
            - Mas o que pode ter feito isso?
            - Pelas marcas, apenas um lobisomem.
            - Calado soldado, não diga tolices.
            - Veja senhor, faltam grandes pedaços de carne e há marcas de muita pressão em alguns pontos.
            - Não, isso é muito estranho. Vamos ver se...
            Ao longe um grito de desespero é ouvido, fazendo todos voltarem-se a ele para o terror de todos, o primeiro soldado, que havia visto o corpo, tentara move-lo para o centro da vila, quando fora atacado por este, sem nenhum aviso, aquela pessoa com parte de seus órgãos interiores expostos agarra-o dando-lhe uma mordida na sua mão arrancando seu polegar, agora os dois debatem-se numa luta corpo a corpo. A criatura babando, força seu peso contra o do soldado, que debilitado pela dor fraqueja e cai. Logo seu pescoço abre-se em uma grande ferida por onde verte sangue quente, aquele não-morto come sua carne para o pavor dos últimos suspiros de vida daquele homem.
            Seus amigos correm para ajuda-lo, porém, já é tarde, virando o seu atacante, um deles crava a espada na região do seu diafragma, jogando-o no chão onde cai inerte. Um dos soldados aproxima-se  ajoelhando-se ao lado do mesmo vasculhando o resto de suas roupas.
            - Mas o que foi isso Capitão?
            - Eu não sei, mas não ele não deveria estar vivo.
            - O senhor viu, como nós, Capitão, vamos embora.
            Novamente, um grito de dor é ouvido por todos que voltam suas cabeças para direita e para seu espanto, veêm aquela criatura que acabara de ser varada por uma espada atacando o pescoço do descuidado soldado que havia se abaixado perto dele. Mas desta vez, ninguém aproxima-se para ajudar, todos estão com aterrorizados, afastando-se enquanto seu amigo é dilacerado. Se tivessem olhado para trás neste instante, teriam visto que de dentro de uma das casas, outro de seus amigos tentava sair, mas era derrubado por outras destas criaturas, sequer com tempo de gritar por socorro.
            - Senhor, eles são mortos vivos, o Bispo tinha razão, há alguém praticando necromancia. – Um dos soldados já chorando de medo. – Como se mata algo que já morreu.
             - Acho que teremos de pedir para o Bispo, vamos embora daqui. – Ao virar-se, a cena aterradora das silhuetas dos mortos que haviam sido trazidos ao centro da cidade levantando-se toma-o. Outros correm, das casas saem mais daquelas criaturas, andando com dificuldade, porém vendo-os em meio aquela nevasca, o que não era o mesmo para a tropa ali, que enxergava apenas alguns metros a sua frente.

A.V.d.H. - Parte 2.

- Indiferente agora, não somos um destes, e temos uma missão a cumprir, se quisermos voltar a nossas casas. – Suspirando e colocando suas tropas a caminhar novamente. – Vamos homens.
- Aye! – Respondem todos em uníssono.
A pequena tropa põe-se a caminhar novamente, são cerca de 50 soldados, porém, mais que suficiente para eliminar uma vila com cerca de 200 pessoas. O pequeno vilarejo de Bingen havia conhecido um crescimento nos últimos anos com a derrubada de florestas e as confecções de flechas para o exército do Imperador. Agora, porém, conheceria sua aniquilação completa.
Próximos a vila, mas distantes o suficiente para serem visto, o que não precisava ser muito longe dado a tempestade de neve que aumentara, escondem ao lado da estrada, aguardando ordens.
- Muito estranho, a vila deveria ter suas tochas acesas ao cair da noite. – Comentava o capitão para um de seus soldados. – Porque estão acesas apenas algumas?
- Talvez saibam que estamos nos aproximando Capitão, o Demônio não é tolo.
- Já chega soldado. – Pensando em como agir, Markus volta-se para seus homens.
- Não poderemos deixar nenhum destes adoradores do Diabo escapar, nossas ordens são claras, homens, mulheres e crianças e velhos. – Essas duas palavras fazem-no parar, com um aperto no estômago. – Não devem ser poupados.
 Todos seus homens lhe olhavam fixamente.
- Para tal, iremos entrar na cidade pelas estradas em grupos, outros devem seguir diretamente para o estábulo e impedir que qualquer um pegue um cavalo. Vocês e vocês. – Apontando para grupos de 5 soldados. – Entrem pela floresta e contornem o vilarejo, vindo pela sua parte de trás, bloqueiem suas saídas. Entendido?
- Sim Senhor!
- A princípio, eles não irão saber o que acontecem, podem pensar que somos apenas de uma guarnição para proteger a cidade, isto nos dará vantagem.
- Não seria melhor pegá-los de surpresa Capitão?
- Você quer entrar no vilarejo gritando e brandindo sua espada, correndo atrás de pessoas por todos os lados?
            - Não Meu Capitão.
            - Então silêncio, com isso poderemos trazer todos os moradores para o mesmo local e depois terminarmos o serviço. – Olhando novamente em direção ao vilarejo. – Quando chegarmos lá tratem de acender as tochas. Vamos.
            Os soldados põe-se a caminhar, aqueles destacados para contornar a vila, adentram a floresta, provavelmente para pior caminhada de suas vidas, naquele frio cortante dentro de uma floresta densa e escura onde o único ponto de referência são as fracas tochas que queimam em Bingen. Ao chegar no centro do vilarejo, o Capitão põe-se a gritar, anunciando sua chegada e pedindo o comparecimento de todos ali, seus soldados seguem ascendendo as tochas, nisto, voltam correndo alguns soldados até ele.
            - Capitão, o estábulo está vazio.
            - O quê?! Não acredito que tenham descoberto nossa chegada.
            - Não senhor, não parece que foi isso, as paredes estão destruídas, é como se os cavalos tivessem fugido, pois as cancelas estão trancadas.
            - Capitão. – Chega correndo outro soldado. – Há marcas de sangue perto de uma das casas.
            - O que está acontecendo aqui? – Um mal pressentimento toma-o. – Entrem em todas as casas, verifiquem cada cômodo e todas as ruas.
            - Senhor, achei algo. – Outro soldado, mais longe.

A Vila dos Heréges.


MUITO LONGE DALI:

            Nas proximidades de um pequeno vilarejo da região de Frankfurt, dentro do território do Sacro Império Romano Germânico um pequeno grupo de soldados marchava sob uma tempestade de neve ao cair da noite, a visão era muito difícil, a floresta os cercava pelos dois lados, a estrada cada vez mais dificultava sua locomoção, porém, as ordens eram claras. A frente, uma figura parada a beira da estrada os aguardava, vestido em pesadas peles e usando um grande crucifixo dourado estava o arcebispo Péter Scherer, o famoso caçador de hereges do Império.
- Capitão Markus, você demorou.
- Lamento Senhor Bispo, porém essa tempestade não está facilitando a comoção, e estas estradas de terra logo começam a ficar atoladiças.
- Desculpas são indiferentes. – Seu tom esnobe era comum a todos os bispos. – Você sabe que os bruxos poderiam já ter fugido.
- Com essa neve toda, não iriam longe. – observando a neve sobre sua armadura de pele.
- Onde estão os soldados em armaduras de verdade, não foi isso o que pedi.
- O Meu Lorde não achou necessário enviar tropas pesadas para perseguir alguns hereges.
- Insolente. – Péter puxa então de sua túnica um rolo de papel, com uma escrita em latim feita a mão. – Aqui está, uma carta de um dos nossos padres atestando que o demônio tomou conta do povo desta vila, estão todos agindo de forma estranha, e me parece que existem afirmações de necromancia, bruxaria, idolatria ao demônio e canibalismo.
O rosto do capitão deixava escapar sua sensação de desconforto com tudo aquilo, aguardando o bispo terminar a acusação, ele volta-se para o mesmo:
- E a quem devemos procurar lá Senhor Bispo, quem iremos prender?
- Creio que não tenhas ouvido o que falei Capitão, essa vila não tem mais salvação.
- E o que o Senhor pretende que façamos o quê?
- Estes homens abandonaram a Igreja e cuspiram na imagem de Cristo, não há nada além de conhecerem a Ira de Deus.
- E creio que nossas espadas sejam o intermédio desta Ira? – Dentro de si o capitão recusava-se a idéia de matar uma vila inteira por causa das ordens de um Bispo. – Não há outro meio?
- Capitão, se você é incapaz de seguir as ordens de deus, vá-se daqui que irei falar com o teu Senhor e pedirei alguém capaz de seguir ordens.
- Perdão Bispo, farei como o senhor disser.
- Melhor assim, agora, o vilarejo fica a alguns quilômetros daqui, deverás chegar durante a noite. O que lhe dará a vantagem da surpresa. – O Bispo caminhava para o seu cavalo, montando-o. – Seja impiedoso com o Demônio que lá habita tal qual ele foi com as almas daquelas pessoas.
- Não nos acompanhará Bispo?
- Tenho mais o que fazer, voltarei para Frankfurt, aguardarei notícias suas. – Pondo o cavalo a caminhar na direção oposta a dos soldados. – Deus abençoa sua cruzada Capitão.
Quando uma distância já separava os dois, o Capitão Markus observando-o partir exclama:
- Velha raposa infernal, como podem deixar estes tipos tornarem-se bispos?
- Poder e dinheiro Capitão, muitos nascem em berço bom. – responde um de seus soldados.


B.d.K. 13 - A Missão 2.


- Desde seu último contato, ele informou ter tomado lugar na cidade como um mercador de tecidos. Deves chegar a estes e dizer-lhes que trazes panos e tecidos que nem mesmo mongóis dinamarqueses ou lituânios poderiam tecer, mas apenas um ser divino poderia lhes ter.
- Apenas isto?
- Não, ele responderá pedindo do que é feito este tecido. – Apontando para Shverno – Você deverá responder a ele são tecidos com os fios do destino pela tecelã suprema onde os fios do futuro entrelaçam-se com as cordas do passado criando este emaranhado que lhe possibilita entender, aquele que este pano deter, as nuances deste mundo.
- É uma grande frase para uma palavra código.
- Ou tu serás identificado pelo mesmo ou outros pensarão que és um comerciante extravagante e nada mais.
- Talvez prendam-me por loucura.
- Tudo é possível. – O Grão Duque puxa do seu pescoço um pingente. – Tome, leve como garantia este pingente, cada um dos nossos agente possui um destes.
- Um crucifixo, e um tanto grande para o padrão dos cristãos? – Olhava Shverno para aquele crucifixo do tamanho da palma de uma mão.
- Sim, dentro dele há uma pequena imagem de Dievas e um recado confirmando que aquele que porta esta estátua é autorizado por mim. – virando-se. – Tome cuidado para que ninguém descubra-a, isso poderia arriscara vida de muitos dos nossos e você seria morto certamente.
- Sim Meu Senhor, e o que fará o senhor? – Colocando o pingente.
- Devo voltar para capital, reorganizar nossas forças e avaliar como estão as fronteiras, creio que os dinamarqueses não tardarão em atacar-nos e tentarem tomar nossas terras ao norte, expandindo seu império ao sul. – Virando-se e caminhando. – Espero que cumpras esta missão e quero ouvir notícias suas em breve.
- Sim Meu senhor. – Shverno também já colocava-se em seu caminho quando Vaisvilkas volta a chama-lo.
- Shverno!
- Sim Meu Senhor.
- Você havia comentado que algumas daquelas pessoas na câmara de tortura não era lituânios. Eram eles moradores desta cidade?
- Não Senhor.
- De onde eram então?
- Oeste, chegaram aqui algumas semanas antes de erguermos o cerco a cidade.
- E como sabes disso?
- Os padres mantinham um registro de quem entrava e saia daquele local. Estas pessoas, me parece, chegaram com algum tipo de problema, pois não se estabeleceram na cidade. Foram diretamente para a prisão. Algo neles assustava a guardas e padres.
- Os textos não são claros, eles são torturados e obrigados a confessar seus pecados. Alguns deles morrem, porém, a partir de certo ponto os escritos se referem a eles como mortos errantes, demônios devoradores, e outros termos.
- Então, ele vieram de Danzig?
- Possivelmente foi um dos locais.
- Outro motivo para preocupar-me com o que acontece para estas regiões. – Vaisvilkas vira-se e começa novamente a andar. – Você tem sua missão.
- Sim Meu Senhor, haverei de cumpri-la.
Shverno vai em direção aos estábulos, precisaria preparar-se para a longa viagem, seriam necessários vários tipos de arranjos para que toda aquela história funciona-se como era esperado. Mas ele tinha uma cidade a sua disposição.

B.d.K. 12 - A missão.


Lá em cima, longe, já caminhavam Shverno e Vaisvilkas, o sacerdote parecia particularmente irritado.
- Meu Senhor, me permita a ousadia, mas fostes muito rápido em decretar a morte daqueles moribundos, sequer pudemos entender o por que estavam lá. – gesticula o sacerdote.
- Não há o que entender, eram torturados por sua fé diferente da destes cristãos – apontando para um grupo genérico de cristãos que jazia sobre guarda. – O que você queria daquelas pobres almas?
- O senhor ignorou, porém, nem todos ali eram sangue do nosso povo, uns demonstravam ser originados das terras a Oeste daqui.
- E por que achas isto?
- As roupas deles, as formas de suas faces, e alguns possuíam o símbolo do deus morto deles. Algo naqueles homens me dizia que não estavam presos por discordâncias com a fé vigente, mas algo mais.
- Pelo que me parece, tivestes bastante tempo para chafurdar naquele local – O rosto do Grão Duque repentinamente é tomado de um ar preocupado, parando sua caminhada, vira-se para o sacerdote. – Você está certo e tenho de lhe confessar, esta cidade cheira a morte, algo nestas estradas, na forma como as pessoas falam, como todos se movem, tudo é muito estranho. Um mal emana destas ruas, os vassalos de Giltiné andam livres nestas ruas. Creio que você possa sentir isso.
- Sim Meu Senhor. Porém temo que a fonte deste mal não está aqui, mas longe, nas terras dos cristãos. Creio que nossos deuses cansaram de ser ofendidos por estes invasores e delegaram a poderosa Ceifadora das Almas sua vingança.
- Pois bem, então meu caro Shverno, delegar-te-ei uma missão.
- Sim.
- Quero que vá primeiramente até a Danzig e veja o que acontece com os reinos cristãos. – Novamente o Grão Duque era tomado pelo seu costumeiro ar de comando. – Lá encontrarás um agente meu, um Assassino de nome Zygimantas. Ele está estabelecido em Danzig dentro de um grupo maior estacionado lá, ele atende por Swietopelk, Swieto se preferir.
- Um assassino Meu Senhor? – O sacerdote não escondia sua surpresa com a sagacidade do homem a sua frente.
- Sim. As vezes, meu jovem, é mais fácil encerrar uma guerra eliminando aqueles que pretendem inicia-la. Zygimantas é apenas um de dezes de agentes que tenho espalhado pelos reinos cristãos que cercam nosso país. – movendo-se para frente apoiando seu corpo contra a parede de uma residência, ponderava suas palavras. – Este sistema tem nos mantido a par do que acontecia e quem vinha contra nós durante anos, porém, já fazem meses que alguns dos agentes deixaram de enviar relatórios e isso quer dizer duas coisas.
- Ou foram descobertos e capturados ou mortos ou converteram-se desertaram para o lado dos cristãos.
- Correto, e ambas as situações apresentam riscos. Porém, não creio que este seja o caso com Zygimantas, ele é um profissional muito bom. Já está a anos sem ter sequer corrido risco de ser descoberto.
- E o Senhor quer que eu investigue o silêncio dos agentes, isso não seria mais pertinente a um espião?
- Shverno, se Giltiné está agindo nestas terras, ninguém melhor para descobrir o que acontece do que você. Confio-lhe esta missão, sirva-se do que for necessário para essa viagem e tome um cavalo até Danzig.
- E como farei para achar este Zygimantas?