Por horas a fio ainda estendeu-se essa batalha, e ao fim dela, já no cair da noite, com a guarnição remanescente baixando suas armas, começava a segunda etapa da invasão, a pilhagem, casas eram arrombadas, pessoas arrancadas de seus esconderijos, espancamentos, pertences de valor eram arrancados, sejam de pescoços, dedos, ou de guarda-roupas.
Uma ordem havia sido dada anteriormente a invasão, os civis não deveriam ser presos, o Grão-Duque Vaisvilkas iria julgá-los da mesma forma que os cristãos haviam julgado seu povo nos últimos 20 anos. Todos sabiam que na prática, isso seria a morte destas pessoas, mas ninguém haveria de desafiar o Grão-Duque.
- Algo está diferente nesta guerra. – Exclamava Vaisvilkas enquanto caminhava em direção a entrada da cidade, observando as colunas de fumaça subindo iluminada pelas fogueiras de prédios em chamas. – Você há de concordar comigo meu caro Shvarno, isso não é algo normal.
- O que o Meu Senhor vê de errado? Os nossos deuses sorriem para nós tocando com a morte nossos inimigos, enquanto o deus deles parece tê-los abandonado. – Soava a voz logo atrás do Grão-Duque. Um homem alto, vestido em um hábito negro, com um capuz a lhe cobrir o rosto e um cajado nas mãos, apesar de crescer-se ser um velho, era uma pessoa relativamente jovem, que havia subido a posição de sacerdote pessoal de Vaisvilkas, posição esperada de um Sumo-Sacerdote e não de um jovem como ele.
Mas este sacerdote havia destacado-se entre as campanhas, com ótimos conselhos e mesmo liderando a resistência de vilas onde prestava serviço como mensageiro de Giltinè, deusa da morte. – Não creio que o Meu Senhor esperasse derrotas como algo comum.
- Não te faça de tolo Shvarno, tu mais do que ninguém sabe o que estes cristãos são capazes e como sua resistência é feroz, suas ações violentas e suas práticas impiedosas.
E realmente ele sabia, quando criança, no começo da Cruzada, sua família vivia em um pequeno vilarejo, onde seu pai era um lenhador e sua mãe, uma sacerdotisa de Perkünas, o Deus do Trovão, tudo era calmo, o local era uma demonstração do apresso dos deuses pelos mortais, um riacho trazia água cristalina até a vila, grandes árvores cresciam majestosas na floresta, o campo era fértil, mas as trevas da guerra chegaram até este local. Uma noite, como outra qualquer, todos já dormiam, da floresta, surgem dezenas de cavaleiros pesadamente uniformizados trazendo consigo os estandartes da Legião Teutônica interrompem o silêncio da noite, a vila pequena e desprotegida não possui força para resistir a uma legião da morte como esta. O zunido das espadas cortando nacos de carne de aldeões indefesos, o desespero das famílias, as chamas causadas pelas tochas cristãs nas casas de palha e madeira acordam todos os que ainda dormim.
Shvarno, com dois ano de vida é acordado bruscamente pela mãe que o pega em seus braços e corre para um outro aposento onde seu pai abre um alçapão embaixo da cama, agora movida.
- Meu filho, escute bem, mamãe vai te esconder aqui enquanto estes homens estiverem aqui, me prometa que você irá ficar em silêncio.
Empurrando o garoto dentro do esconderijo e colocando a cama de volta ao lugar é o tempo que resta até sua casa ser invadida pelos cavaleiros, mesmo escondido, a cena não pode deixar de ser vista pelos buracos na madeira do chão da casa, o pequeno garoto viu quando dois cavaleiros avançam contra seu pai, segurando-o, outros com o controle da sua mãe, arrancam suas vestes deixando-a completamente nua, um amuleto em honra Perkünas balançava em seu pescoço.
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